quarta-feira, agosto 23, 2006

Viva, viva

E foi em meio ao caos instalado oficialmente entre eu e o que chamam de minha família, uma cerveja e outra e outra e ao final, o resto de vinho do jantar de ontem, ouvi: “você escapou... você escapou...”
É, eu escapei, escapei das cozinhas decoradas com panos de prato combinando com utensílios de vaquinha, dos faqueiros completos e da iluminação medíocre, escapei do salário certo no fim do mês, das fachadas imitando estilo neo clássico, escapei das filas no burger king, e entre tantas coisas, eu escapei de morrer em vida pra me tornar alguém que esperavam que eu fosse.

Pode parecer besteira, mas eu me orgulho, qualquer outra estaria lá, presa, morta sem saber que tem que se enterrar logo ou os vermes a comerão.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Hoje

Nova vida, nova história.
Ouvir it´s a wonderful life como se fosse a primeira vez.
A primeira vez....

I am
the only one
can ride that horse
th'yonder

I'm full of bees
who died at sea

it's a wonderful life
it's a wonderful life

I wore
a rooster's blood
when it flew
like doves
I'm a bog
of poisoned frogs

it's a wonderful life
it's a wonderful life

I'm the dog that ate
your birthday cake

it's a wonderful life
it's a wonderful life
it's a wonderful life

sexta-feira, agosto 18, 2006

Nascida em 23 de Junho de 1979

Devo ter envelhecido mais que os 27 anos que minha carteira de identidade comprovam.

É a segunda vez no mês que ao esperar um show que quero muito ver, me pego sentada de lado rosnando pras pessoas que me incomodam só de olhar, o som mais alto que meus ouvidos podem suportar.

Com minha calça jeans pula-brejo, porque cortei mais do que deveria, me lembro da época de colégio em que eu pelo menos tinha claridade pra ler um livro em pé perto do portão que dava pro pátio.

Lembro bem, minha mãe comprava uniforme novo e fazia uma barra muito curta com o pretexto que eu a arrastaria e estragaria a calça se a barra fosse maior. Na sala de aula eu sentava com minha mochila nas pernas pra ninguém ver minhas canelas finas e brancas e comentar pra sala inteira. Na hora do intervalo ia ler em pé enquanto todo mundo corria.

Depois, eu consegui barras maiores e uma calça jeans (que usava até com um cinto!), mas já estava acostumada e continuei a ler em pé enquanto o resto do mundo sentava em rodinha no sol pra comentar do menino novo, “é um gatinho, você viu?!”

Mas ao final do show, inadvertidamente, um amigo me deu um tapa no queixo e disse “tchu-baba!” e eu me vi batendo no queixo de todo mundo de volta dizendo a palavra mágica e percebi que às vezes eu posso deixar o livro de lado e ir pro pátio brincar.


PS: Envolvida em minha teia de egolatria esqueci de dizer que Bad Folks é foda. Tem na trama

terça-feira, agosto 15, 2006

Um roupão branco e a solidão

O quarto do avesso pra tentar organizar alguma coisa e parece que é só mais bagunça.
Pra fazer a faxina é preciso fazer sujeira e bagunça antes.
Faxina no juízo – disse Lulina.

Fico lembrando da última mudança, desesperada pra sair de casa, arrumei minhas malas como quem joga entulho em caçamba. Hoje, cuidadosa, tentando ser organizada.

Achei um roupão branco com um rasgo, fiquei pensando se remendo ou jogo fora. Lembro bem quando fiz o rasgo, tinha acabado de me mudar, um dia abaixei perto da cama e rrrack! - foi-se meu roupão branco. Fiquei triste, chorei. Achei bobo chorar por um roupão, na época pensei que sentia solidão, mas hoje me dei conta que chorava pelas minhas malas feitas às pressas, chorava por ter levado a angústia pra minha casa nova. Eu tinha mudado, mas não tinha me mudado.

Solidão foi algo que eu criei pra me desculpar por aquilo que eu nunca consegui encarar de fato.

domingo, agosto 13, 2006

Fico me perguntando porque estou aqui escrevendo coisas e postando.
Teoria: todo mundo escreve especialmente pra alguém.
Eu, no caso, acho que escrevo pra quem nunca me ouviu.

E minhas esperanças, graças à muita martelada na cabeça, parece que alcançaram a marco -20º C ou talvez o melhor exemplo seja 100º C à 1 atm.

Condensação
De mim mesma
Esvair
Quebrar
Matar
Morrer
E enterrar

Lembro bem da morte do meu avô, foi uma dor horrível, maior que enterrar minha mãe. Ainda vim pra casa e fiz almoço pra minha avó, tia-avó, irmã-mais-nova-por-quem-sempre-me-senti-responsável (inútilmente) e pai. Eu, a neta agarrada que preferia o colo dele a qualquer outro, consolei quem ele amava naquele dia, e em outros tantos, em que ele era o grande motivo.

Meu namorado foi trocar as maçanetas e não apareceu no fim do dia como o prometido.

E depois de uns meses eu percebi que enterrar meu avô me fez um grande bem. Parei de usar Aerolin.

Mas sinto saudades de um abraço sufocante nesse maldito dia que inventaram porque ele foi, apesar de tudo, meu pai verdadeiro.

É isso, dessa vez, ninguém vai trocar maçanetas e eu tenho que enterrar a família inteira e fazer almoço pra nova em comemoração.
Talvez assim nasça uma flor em cima da cova.

Deus

Disputando um lugar para segurar no balaústre notei a pulseirinha da garota, estava escrito “Jesus Cristo” em preto e rosa pra combinar com a camiseta.

Eu queria acreditar também.

Alguma coisa que me segurasse nos momentos difíceis como essas pessoas dotadas dessa fé dizem que lhes acontece.

“Nam-myoho-rengue-kyo”

“Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare”

“Por Cristo, em Cristo, para Cristo”

Afim de que quando eu tiver vontade de jogar a próxima cadeira em alguém eu me lembre que todos, inclusive o sujeito na minha mira, são filhos de Deus.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém!

Re-nascimentos

Hoje uma amiga me perguntou o que eu gostaria de ouvir ao nascer.
Como eu já nasci e me baseio no que sei desta vida, o melhor seria ouvir numa “próxima" ocasião dessas It´s a wonderful life do Sparklehorse.

A música me faz sentir coisas indescritíveis e talvez eu nem ligasse pra um fórceps ou uma família como a que eu tive.

Tive.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Síndrome de Rapunzel

Era uma vez...

Uma bela princesa que estava presa na torre e achava que só um príncipe encantado a tiraria de lá. Depois de muitos e muitos e muitos dias de sua vida jogando suas belas tranças pela janela, apareceu mais um sapo na frente da torre (ela tinha uma predileção por beijar sapos) e também apareceu em um cavalo branco um príncipe meio manco que procurava uma bela princesa pra resgatar.

Pela primeira vez na vida ela aceitou o príncipe e mandou o sapo e sua promessa de ser um príncipe encantado passear.

Pela janela da torre ela contou toda sua história de longos anos de prisão ao seu príncipe que deveria tirá-la de lá o mais rápido possível. Mas como ele era meio manco, chegou ao terceiro degrau e logo desistiu, afinal, a princesa não era tão bela assim pra causar-lhe tanto esforço. E com uma certa compaixão por aquela mulher que viveu a vida inteira aprisionada, ele gritou: “Ei, eu acho que você não consegue, mas... Já tentou descer pela saída de incêndio??”

Foi assim que...

A bela princesa percebeu que na verdade, pra baixo todo santo ajuda e mesmo sem conseguir andar direito, desceu as escadas de incêndio.

Chegando lá embaixo, aprendeu a andar, correu de dragões e fadas más pra se salvar e sem querer tropeçou em um sujeito que passeava a esmo, sem cavalo branco, sem chapéu ou capa. Definitivamente, não era um príncipe, muito menos o encantado.

Mas, pra que mesmo um príncipe encantado se ela só precisava de um desses pra descer da torre?

E então...

Esses dias, a ex-bela-princesa e seu amor resolveram que vão viver felizes para sempre - enquanto durar.

FIM

quarta-feira, agosto 09, 2006

Hold on a moment, please

“Alô, boa tarde, por favor o senhor Manuel Augusto de Matos?”

“Ah, infelizmente ele não pode atender, quem fala?”

“É da telefônica 15, em que horário eu poderia falar com ele?”

“Olha, o horário eu não sei, mas já adianto, a conexão deve ser por São Pedro.”

“Como?”

“É!”

...

...

Com voz de desapontada: ”A Telefonica 15 agradece, tenha uma boa tarde.”

terça-feira, agosto 08, 2006

Maré alta

Minha avó sempre diz: “Tens o mar perto dos olhos, óh garota!”

Hoje o mar está de ressaca.

segunda-feira, agosto 07, 2006

120 anos é o limite

Houveram épocas em que eu me jogava na frente de carros pra ver se eles me atropelavam e eu conseguia morrer sem fazer muito esforço. Nunca fui fã dessa coisa de armas ou cortes em banheiras, sou covarde, mas confesso que a vontade de morrer por vezes me tomou.
A primeira vez foi quando eu, inocente garota de 18 anos, tomei uma caixa de Valium sem saber que o máximo que me aconteceria era dormir por três dia inteiros e acordar com a cama molhada.
Decepção.
Na verdade logo depois de constatar que estava viva e úmida de urina semi-seca pensei que pudesse estar de fato morta e que aquilo seria apenas minha consciência simulando meu corpo vivo - como naqueles filmes hollywoodianos em que o personagem principal na verdade é o próprio defunto.
Minha idéia não vinha daí, já que esses filmes vieram depois da minha primeira tentativa frustrada de acabar com minha vidinha medíocre.
Minha mãe era espírita e eu tinha que ouvir algumas histórias de suicidas que ficavam presos na terra, vagando até terminar o tempo equivalente à vida que o Todo-Poderoso havia lhes destinado.
Então, quando acordei naquele estado lamentável, fiquei pensando que estava morta e que ficaria assim, “vivendo sem viver” até completar meu tempo pré-estipulado aqui na terra.
O desespero bateu forte quando pensei na minha bisavó que faleceu aos 99 anos, e em meus avós que ainda estavam vivos aos 80 e poucos...

Longevidade de pai e mãe, a própria desgraça pra quem nunca gostou muito de viver.

Arremesso de cadeiras

Ela atirou a cadeira em cima da mesa, os copos e garrafas se estilhaçaram pelo chão. Cinco seguranças a cercavam e a puxavam pelo braço.
Ela deu um grito: Me larga que eu não estou fugindo de nada!
Essa foi a maior mentira que ela já contou.
Ela foge de muitas coisas.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Coisas perdidas

Oi, tudo bem?

Ah, eu vou indo... Uns dias mais nublados que outros, mas no geral, 15 graus! Ninguém morreu de hipotermia até agora.

Sinto sua falta, você ligou outro dia e eu estava fora de casa, você não deixou o telefone, eu teria que ir a uma dessas casas de telefonia, mas pelo menos conseguiria falar com você. Não consigo seu endereço pra mandar uma carta, você não responde meus e-mails e agora eles voltam.

Eu estava pensando em ir pra Bahia, rolou uma proposta pra trabalhar lá, lembrei de você. Mas não consigo ficar longe.
Na verdade só tem uma pessoa que me prende hoje, você sabe.

Você longe e todos os outros amigos que restaram estão distantes, eles tem coisas a fazer, como ter filhos ou fazer residência em Santo André.

Talvez meu destino seja a Bahia.

terça-feira, agosto 01, 2006

Mundo estraño

O mundo é estranho.
Quando eu dizia isso, um amigo me perguntava: comparado a quê?
Eu nunca soube dizer. E hoje que eu sei, ele não está mais aqui pra eu contar.

O mundo é estranho... comparado à mim.

...Mas o que importa é ser feliz, né? - diz um estúpido qualquer.

Why?

"You can leave me
On the corner
Where you found me
I'm not for sale anymore"

Só podia até 2 megas...