sábado, março 31, 2007

Me sinto alheia ao resto do mundo.
Agora me interno em uma cozinha cheia de retirantes nordestinos que falam dialeto do português e pra não ficar excluída acabo até cantando pagode junto, e tudo mais que sempre odiei.
Eles trabalham por dinheiro, precisam sobreviver e a cozinha é o único lugar onde eles conseguem fazer isso.

Eu também não escolhi estar lá, não sei bem como é isso, acho que de alguma forma eu também só posso estar em uma cozinha, não pela sobrevivência financeira, mas é minha única chance de poder me realizar.

Engraçado, as pessoas normalmente falam de profissão como uma escolha, algo que você decide racionalmente. Eu não decidi estar lá, pelo contrário, evitei tanto, mesmo querendo muito aquilo, mesmo facinada olhando pela boqueta do lado de fora quando era garçonete.

Nunca achei que fosse conseguir sobreviver lá dentro.
Facas, fogo, panelas fervendo e milhares de comandas entrando... Tanto trabalho naquele ambiente que beira os 50 graus!
Tem que ter coragem e força de vontade, não é pra qualquer um.

São raros os restaurantes que não roubam caixinha dos funcionários e que pagam o salário e horas extras corretamente. E no fim, você sempre trabalha muito por pouco dinheiro.
As desvantagens são enormes e honestamente, tem que precisar muito mesmo ou ser muito louco pra se enfiar em uma cozinha.

No meu caso, como disse, não foi uma escolha, simplesmente, cozinhar, estar em uma cozinha, é a única coisa que me dá realmente prazer em fazer nesta vida.

quarta-feira, março 28, 2007

Vômito

Sabe aquele mané que só atrapalhava a aula de história que você tanto gostava no colégio?Aquele idiota completo que você achou que ia se livrar porque ele ficou de recuperação em todas as matérias sem a menor chance de passar de ano mas o papai dele pagou pra diretora e no ano seguinte o desgraçado estava lá na sua sala de novo enchendo o seu saco por causa do seu all star que era tênis de pobre? Sim, esse desgraçado não conseguiu entrar pra política por incompetência mas o papai dele pagou de novo e agora ele é dono do restaurante em que você trabalha.
Ah, e ele usa all star!

segunda-feira, março 05, 2007

Mas tienes que doblear!

Quando minha amiga Leo “dobleava“ no restaurante da vaca uruguaia, eu perguntei a ela porque ela se sujeitava aquilo, trabalhar 16 horas e ainda ter o salário atrasado...
Ela disse que pensava na Bahia, que era pra lá que ela queria voltar um dia, depois de conseguir ser chef aqui e fazer o nome dela. “Eu fecho os olhos e penso em Itacaré“

Hoje, quando me vejo trabalhando 18 ou 19 horas cuidando do trabalho de 4 pessoas que ainda não foram nem entrevistadas por incompetencia do chef que quer comer as cozinheiras e esquece de pedir azeite e outras coisas de suma importância, penso que eu vou conseguir dar conta de tudo, assim como a Leo. E daí no meio da natação quando parece que vou desmaiar de cansaço ali mesmo na frente da geladeira da minha praça, eu grito pro pia me trazer água e um café, “pelo amor de deus!“
E me pego pensando porque faço isso comigo mesma se eu não quero ir pra Itacaré...

Um café com cafeína, cafeína, daqui eu vou pra Ina (de Abreu)
Um copo de água e um sorriso, daqui vou pra Helena Rizo
Vou abraçar minha panela, daqui vou pra Paola Carossela.

Os lugares onde quero ir ficam em São Paulo, mas a distância parece ser mais longa que ir caminhando da China a Itacaré.