domingo, junho 24, 2007

Uma hora

Tenho um frio no final do estômago, quase duodeno (será que é esse o nome?) que me anestesia as mãos e faz meu coração bater mais rápido como se nunca parasse, como um cavalo que cavalga tão rápido que parece que flutua. Em cima da garganta tem um nózinho desses, parece que tem alguém apertando e me sussurrando no ouvido que não posso falar e as lágrimas escorrem desde a última hora do dia dos meus 28 anos.

***

Nota: Tenho que aprender que pensamentos não são palavras instantâneas justamente pra gente só pensar e ficar pensando.

sábado, junho 23, 2007

Happy birthday to me

Obrigada aos amigos que acreditaram em mim e me acompanharam na peregrinação atrás das delicias de um dos melhores restaurantes de São Paulo - apesar de ser quase fora de São Paulo.
Obrigada, aos que carregaram os outros amigos em seus carros até lá.
Obrigada.

Dá pra dizer que foi perfeito, ou quase.

Amo todos.

Gracias, gracias...

quarta-feira, junho 20, 2007

Cão

Passeando Bisteca no parquinho, a dona de um Golden Retrivier que vai cheirar Bisteca diz:

_ Ah, que bonitinha, qual o nome dela?
_ Bisteca.
_ Estela?
_ Não, Bisteca.
_ Ah, Bisteca... (com cara de quem achou estranho)
_ E o nome do seu?
_ Bruno.
_ ...

No dia seguinte, a dona de um poodle acha Bisteca linda e pergunta:

_ Qual o nome dela?
_ Bisteca.
_ Bisteca? Que engraçado.
_ E o nome do seu?
_ É Bruno.
_ ... Hum...


Não há outra explicação, esse Bruno aprontou várias com as mulheres de meia idade da Santa Cecília...

sábado, junho 16, 2007

Eu nunca entendi (parte 1)

Ele apareceu no café combinado de moleton cinza desbeiçado, calça jeans e tênis nike.
Tinha cara de moleque, e um moleque feio.
Eu nunca entendi porque eu fui lá.
Eu tinha acabado de fazer 24 e ele dizia ter 22, mas vi a identidade jogada sem querer na mesa enquanto ele foi “mijar“, 19 anos mal feitos.
Eu nunca entendi porque não fui embora naquela hora.

A casa dele parecia cenário de filme B de terror anos 80.
Os pais, que viajavam todo final de semana, tinham um gosto gótico clássico para os lustres e adornos, o mais brega dos tecidos cobria o sofá rebuscado. Uma boneca de porcelana com a ponta do nariz quebrada em cima do móvel parecia um ser sobrenatural que me analisava criticamente.
“Essa é minha casa, fica a vontade, se quiser cerveja tem lá na cozinha“, depois de algum silêncio fechando a porta.
Eu nunca entendi porque não fui embora antes de “mais uma cerveja“.
Os copos imprestáveis entre panelas e panelas dentro e em volta da pia (era feriado prolongado), cheiro escroto de miojo sabor cheddar - não tenho coragem nem de comer cheddar de verdade, acho que deve ser um daqueles enganos, foi fabricado pra reformar paredes mas algum norte-americano que precisa de redução de estômago colocou no hamburger, e assim foi da seção de ferragens pra geladeira de frios.

Direto da lata, tomei muito mais que “a última“ e pior (óbvio), fui pro quarto dele.
A única coisa útil eram exemplares de “Numa Fria“ e “Hollywood“, fim.
Os cds davam medo. Os dvds, todos óbvios. O cheiro, nem tão óbvio - os lençóis não eram trocados, de certo, há meses , o chão parecia ter cerveja grudada de algum lugar do passado. Eu sentia uma espécie de ar pesado, desses que se eu pudesse ensaboar nunca faria espuma.
Eu estava acostumada com quartos sujos, mas daquele jeito, era difícil de encontrar.
Adornos infantis, como o personagem do Massacre da Serra Elétrica, Jason e afins, se espalhavam pelos móveis e eram as únicas coisas sem dois dedos de poeira daquele lugar - só ele podia encostar naqueles bichos. Cartazes amassados de modelos tomando cerveja de biquini cobriam as paredes e eu não queria dizer de novo, mas não sei, juro que não sei porque não saí correndo dali!
...

quinta-feira, junho 14, 2007

Sonhos

Os dias têm sido longos e eu torço pra chegar ao final, quero dormir. Sonhar com os marsupiais e extra terrestres machos grávidos que têm as cabeças das crianças saindo pelo umbigo.

Ele me faz um carinho nas costas que me lembra a sombra das árvores nas férias de verão - quando minha mãe me obrigava a ficar na praia até o sol ficar tão quente que parecia que ia ferver minha cabeça - me beija o rosto pelo lado esquerdo e diz que eu sou a mulher mais linda do mundo. Penso no ato, sou a mulher com mais sorte no mundo!

Eu tô me fodendo, mas ele me faz querer continuar.

Às vezes sonho que ele não é humano, que foi tecido com fios de ouro pelas cerzideiras mágicas pra mim.

E a gente canta junto com a música que começa a tocar, meio sem querer...

“Im in love with the world through the eyes of a girl
Whos still around the morning after“...

terça-feira, junho 12, 2007

Continuando os posts animados do dia...

Feliz dia de gastar dinheiro com quem vai lhe dar um pé na bunda!
Não sei muito bem o que fazer com essa minha vida que não sabe pra onde vai, nesse mundo que não sabe pra onde vai, cheio de pessoas que não fazem a menor ideia de onde estão indo.
A sensação é que estou plantando numa terra com rachaduras, sem água pra regar, num sol de 45 graus.
Tem a casa pra arrumar e eu sei que deveria, mas não me importo. Não ando me importando com muita coisa. Penso em ir embora do país, não sei pra onde.
Na verdade, eu bem sei, onde quer que eu vá essa coisa aqui dentro vai continuar exatamente como está, quebrada.
Continuo quebrada, tentando colar os pedaços, mas nem todo esforço do mundo, faz milagre.
Chama o restaurador!

“Você não é bipolar, isso é uma nomeclatura da moda, você é sensível, se deixa penetrar pelas coisas do mundo“, diz o psiquiatra olhando pra mim e escrevendo uma receita de duas caixas de Carbamazepina.

Sensível... Fico imaginando uma marretada na minha cabeça “sensível“ pra ver se resolve.

O vaso vazio

Semana passada achei que estivesse grávida.
Ainda tenho a ilusão cretina de que filhos salvam sua vida.
É mais forte que eu essa força idiota que vem do meu útero.
Uma injustiça danada colocar crianças num mundo que até mesmo o Alpino perdeu o gosto - pura gordura hidrogenada.

Não estou grávida.
Se estivesse, não sei o que faria.
Talvez dessa vez não fizesse.

Apesar de todos os esforços ainda sinto a tempestade que pode voltar a qualquer momento. Ainda ouço uma voz lá no fundo que diz que toda essa estabilidade pode voar pelos ares agora mesmo, e que minha única saída seria pular pela janela, como se o Bin Laden tivesse acertado o avião bem no meu prédio e tudo fosse ruir.

Crianças não fazem milagres.
Crianças podem virar terroristas ou vítimas, podem virar idiotas completos pra ajudar na população mundial ou podem virar pessoas legais também, mas não salva-vidas dos pais, isso eu não poderia fazer.

Só queria um lugar onde nem tudo que continua “barato“ ficou horrível, e onde eu receba mais que o piso pra trabalhar que nem boi, oito horas ou mais, seis dias por semana. Talvez um lugar onde não existem milhões de pessoas que baixam snuff movies e pedofilia na internet...

Teria que me mudar de planeta.
Melhor continuar assim, com meu útero vazio.

segunda-feira, junho 11, 2007

Acordei enjoada com a sensação de que a superfície da língua é uma pele de cobra que se mexia dentro da boca - onde li isso? seria Reinaldo Moraes?
Não me lembro de muitas coisas hoje.
A cabeca dói.

Pensando na ressaca, a definição é muito boa, sinto que tem um mar querendo jogar coisas pra fora de dentro de mim, aquela água suja cheia de ondas gigantes carregadas de areia e merda.
A cabeça dói e sou a maior amadora do planeta.

Rodrigo me surpreende no café da manhã à uma da tarde dizendo que o que escrevi ontem no blog estava legal - surpresa, o que eu escrevi ontem?
Depois me diz que em breve chegará minha carteirinha de escritora beatnik, e logo explica, escrevi bêbada e tinha “vômito“.
Corri pra ver, mas não deletei... São coisas de amadora, preciso conviver com o que fiz, fica lá.

Bisteca dorme na caminha dela, acho que farei o mesmo até amanhã...
Postando bêbada, completamente bêbada.

Depois da peça do Mario - me dou ao desfrute de chamar o homem pelo primeiro nome, ontem ele contou sobre a filha dele na roda em que eu estava - me acabei de chorar.

Procurei meus únicos amigos, quem poderia conversar sobre aquilo tudo, mesmo eles não tendo assistido. Só tenho dois.

Na peça: “meus pais se abraçam no sofá, em frente a televisão desligada“, Cristina diz.
E eu instantâneamente vejo meu pai deitado naquele sofá em que ele estava naquele exato momento (aposto), olhando praquela tv que poderia muito bem estar desligada, lembrando da minha mãe, que já se foi há 14 anos, quase 15.

Tem coisas que nunca vão embora, por mais que a gente expulse.

Queria que fosse mais fácil, como o vômito que ensaio agora...

O homem é foda.

Porque não sou como aquelas pessoas que se divertiram o dia todo na parada gay e estão dormindo agora?
Porque?

terça-feira, junho 05, 2007

Chef conceituado

_ Restaurante ****, boa tarde
_ Boa tarde, quem fala?
_ Maria
_ Oi, Maria, meu nome é Carolina e eu precisava falar com o chef do restaurante
_ Ah, ele tá viajando
_ Sim, eu passei por aí semana passada e não souberam me dizer quando ele volta. É o seguinte, eu tô procurando emprego e queria muito trabalhar com vocês aí. Eu tenho uma indicação e precisava mesmo falar com ele, será que você não tem como descobrir quando ele volta?
_ Ah... sabe o que é...? Ele sumiu.
_ Sumiu?
_ É... Os sócios tão tudo louco atrás dele, ele foi viajar e ninguém sabe onde ele tá e nem quando volta...


Se eu fosse escrever sobre os chefs conceituados (e surtados), dava um livro. Pena que nunca mais teria emprego.

segunda-feira, junho 04, 2007

Eu tô a ponto enfiar uma faca bem no estômago de alguém bem filho da puta e torcer pra sentir as víceras subindo.

Eu tô a ponto de gritar na rua e se alguém responder, bater até desmaiar.
Não me importaria nada que fosse eu a do chão.

Eu tô de saco cheio da minha sobrevivência ser tão difícil, de fazer o que gosto ser tão raro, tão cheio de obstáculos e condicionantes.

Eu tô de saco cheio.

Acho que vou procurar emprego em qualquer lugar.
Pedir 40 gramas de paroxetina por dia pro meu psiquiatra.
Virar bancária.
Funcionária pública.
Mau humorada profissional, maltratar como hobby e, na mesa do happy hour, rir histericamente daquela do português que o Ivan contou!

Amanhã

Sexta-feira marquei uma entrevista com a gerente de um restaurante.
Contando que sou cozinheira, não entendo porque não é a própria chef que vai me entrevistar.
Tudo bem.
Ela disse “amanhã às nove da manhã“
Eu repeti “amanhã às nove, ok.“

Rodrigo estava do meu lado e comentou “de manhã? você vai ter que dormir cedo hoje“.

Sábado às nove da manhã, com os pés molhados, eu a esperava.
O restaurante estava fechado.
Fiquei sentada num banco de espera pra fora que providencialmente era coberto.

Esperei até às 10:15, mais que isso também já era demais.
Ok, poderia ter acontecido alguma coisa, acidente de carro, filho doente, morte de tia... vai saber.
O benefício da dúvida me fez ligar pra saber o que poderia ter acontecido e remarcar a tal entrevista.

Atende o maitre do lugar e diz: “você se enganou, ela não trabalha aos finais de semana“

Eu me enganei...

Na minha terra, “amanhã“ falado na sexta-feira, é sábado, que configura final de semana.
Na minha terra.

Na terra dela, acabo de descobrir, “amanhã“ de sexta é segunda-feira, e eu faltei à entrevista!

Remarquei pra “amanhã às 10 horas“, com uma voz de “você não tem a menor chance“.

Só espero sinceramente, que esse “amanhã“ não seja quinta-feira...

domingo, junho 03, 2007

Margens

Fico aqui pensando em como as pessoas se isolam, criam grupos e sociedades mas vivem na mesma bosta de qualquer jeito.

Eu sempre fui “galinha“, “dada“ e esses elogios ótimos que mulheres desprovidas de bloqueios sexuais recebem.

Esses dias tava conversando sobre sado-masoquismo com um conhecido e ele me diz que na verdade SM não tem nada a ver com sexo. Quer dizer, existe um clube, e só lá e naquelas condições, existindo um “mestre“ e outro alguém que gosta de receber chicotadas e afins, é que se caracteriza uma relação SM.
E fim.

Honestamente, opinião de quem já recebeu chicotadas e gostou pra caramba, o prazer pela dor física vem do sexo.

Mas essas pessoas todas vão nesse lugar e lá não existe sexo e aquilo tudo não tem nada a ver com sexo. Lá, eu seria “a maior galinha“. Como do lado de fora, como no colégio de freiras.
Engraçado.

Então, ou você é “artista marginal“ ou você é artista e vai no Jô Soares.

Se você faz teatro na praça Roosevelt, você é marginal e não tente convencer as pessoas do contrário, elas são incapazes de entender.

Você tem que entrar num grupo, fazer algo pre-estabelecido.
E mesmo se você não fizer, talvez você já esteja fazendo.
É aquilo, mesmo não sendo, junto com todos aqueles que também não são, já existe um grupo que, de alguma forma, segue regras.

Será que a espontaneidade ainda existe?