Ela já não fala mais, nem tenta, o corpo inchado porque o rim não funciona, fui chamada pra uma visita às pressas e me perguntei o que faria lá, já que disseram que ela também não abre os olhos.
“A médica disse que ela escuta“
Ok, se ela escuta então é outra coisa, eu vou.
Eu fui.
Ela abriu uma frestinha de olhos, a cabeça enfaixada deixava vestígios de sangue no lençól branco - ela tem feridas pelo corpo inteiro.
Respiração de quem vai morrer a qualquer minuto.
Eu, pensando em como fazê-la se sentir um pouquinho melhor (se isso for possível) durante a minha permanência, fiquei com a mão no rosto dela, olhando pra ela. Disse que a amava, e ela piscou, então eu disse que sabia que ela me ama e que isso nunca acaba, que isso vai ser eterno pra mim.
Minha irmã ficou desesperada, tagarelando, dizendo que sei lá quem mandou um beijo e que semana que vem estará finalmente livre do trabalho e que poderá vir vê-la todos os dias.
Saiu pra chorar.
Eu que não sou cardecista como minha irmã, estou tranquila, porque sei que semana que vem ela estará livre desse sofrimento todo.
Choraria se fosse ao contrário, se ela tivesse a espectativa de sofrer por mais tempo ainda. Estou aliviada, logo ela se liberta disso.
E é a vida, não é? A gente tem que morrer um dia, o dia dela chegou, com muito sacrifício. Eu chorava de pensar nela lá sozinha, sem nem poder falar pra enfermeira que precisa mudar de posição.
Não choro pela morte dela, choro por outras coisas...
Esses dias tava na mostra de curtas que tá rolando e dentro do programa “Latinos 3“ tem um curta-metragem que diz tudo (ou quase tudo) sobre eu e ela, e veja é um curta-metragem!
Assistam “Lo que trae la lluvia“ de Alejandro Fernandez Almendras - quem acha que não dá pra contar uma história em um curta é porque não viu esse curta.
É lindo!
Eu, fico aqui com minhas lembranças...