quinta-feira, julho 09, 2009

sala D

Foi estranho demais ver seu nome na placa do velório.
Eu ainda sou aquela menininha que te admirava cozinhando, ansiosa pelo almoço sempre delicioso que suas mãos cheias de cicatrizes me entregariam.
Ainda mato o tempo no quintal, brincando no meu fogãozinho vermelho, a espera dos seus sabores.
Choro quando você, apressada, não me leva à feira.
E saltei da cama ouvindo sua voz me dizendo: "ah, minha filha, pra morrer basta estar vivo."
Aqui dentro você é imortal.

sábado, julho 04, 2009

Querida

Rasguei uma foto sua que veio numa caixa sem querer.
Com as fotos de criança não consigo, você foi a coisinha que mais amei nesta vida.
Me senti um pouco melhor depois de te jogar, já crescida, rasgada em pedaços no lixo do banheiro.
Nossa última conexão está se desligando num hospital público.
Daqui em diante é com minha advogada.
Obrigada.

refresco pro cérebro

Meu trabalho é isso, a coca com gelo e limão da minha vida.
Música também, um suco de tangerina numa manhã de ressaca.
O rock progressivo me embrulha o estômago.
Debandei desse mundinho há tempos.
Fugi e me escondi embaixo das cobertas pra ouvir Pixies.
Sinto que meus neurônios sofreram um massacre.