quarta-feira, março 01, 2006

...Vem vou beijar-te agora não me leve à mal hoje é Carnavaaal...

Foi Carnaval e eu não sei nada sobre ele.
Graças, saí quase ilesa!
Não fosse a Ivete Sangalo gritando enlouquecidamente pela tv de uma pizzaria tradicional da cidade, eu não saberia que foi Carnaval.
Agora você me pergunta: Uma tv em uma pizzaria tradicional da cidade?
Eu te respondo: Sim, uma tv em uma pizzaria tradicional! E pior, não só uma tv, a pizzaria resolveu também ter um parquinho do qual as crianças saem gritando e correndo para o salão – ótimo pra quem quer comer pizza sossegado!
Mas no fim, acho que saberia sim que foi Carnaval.
São Paulo nunca ficou tão boa e fazia já uns oito meses (desde que me mudei) que não dormia tão bem.
Os ônibus quase não passavam pela avenida (uma das mais movimentada da cidade) pra onde dá a janela do meu quarto.
Sabe, sempre me irritou essa alegria sem nexo das épocas festivas. E o carnaval, especialmente, se tornou pra mim e pra quem não compartilha do mau gosto coletivo, um verdadeiro pesadelo.
Mas quem sou eu pra dizer que o mau gosto é dos outros e não meu, não é? Faço parte da minoria.
E pra não dizer que eu sou uma pessoa lastimavelmente rabugenta, vou contar uma história:

Meu namorado é um moço de gosto musical selecionado (não fosse uma tal de Shara, ou algo parecido com isso, uma cantora pop japonesa pela qual ele é incrivelmente fascinado – ainda desconfio que seja pela beleza oriental da moça e não pelo que ela canta, mas enfim ele adora essa coisa) e ele sempre me reprime quando digo que gosto de algo que ele acha musicalmente tosco.
Então estávamos no Botequim do Hugo, quando começou a tocar um vinil com marchinhas de carnaval. Eu super empolgada, comecei a cantar e pular na cadeira sem notar que meu namorado me olhava estranhamente. Então tive que arrebatar: “Ah, não vem que não tem! Meu avô cantava marchinhas de carnaval pra eu dormir, é minha memória de infância!” - e continuei a cantar e pular.
Foi um susto pra mesa, que começou a rir muito com minha revelação bizarra.

Mas é verdade, quando eu era pequena, era muito mimada e depois de todo mundo se encher o saco de cantar pra eu dormir (eu não dormia se alguém não contasse uma história ou cantasse pra eu dormir) eu chamava meu avô, que as vezes estava presente e vinha com toda a paciência do mundo me segurar no colo e pular marchinhas de carnaval.
Ele pulava e cantava:

“Oh jardineira porquê estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? Foi a Camélia que caiu do galho que deu dois suspiros e depois morreu!”

“Atravessamos o deserto do Saara...”

“Se você fosse sincera, ôôôh, Aurora, veja só que bom que era.... ôôôh, Aurora...
Um lindo apartamento e com porteiro e elevador, e ar condicionado para os dias de calor...”

E às vezes eu não dormia mesmo assim e ele acabava com o repertório sendo obrigado a cantar aquelas mais quentes e nada indicadas pra crianças:

“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...?”

“Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca...”

E outras tantas que eu não me lembro mais, e ele cantava também umas músicas populares portuguesas um pouco obscenas pra cabeça da minha avó (aquela que ia à Londres de vez em quando).
E então era nesta hora que minha avó ficava furiosa, entrava no quarto e era aquela discussão entre os dois - em português de Portugal, claro!

“Óh Manuel, tu estavas a cantar obscenidades à garota??? Onde tens a cabeça??? És safado até com tua neta!!!”
“Óh Mónica, não me enchas ãh, a garota estava quase a dormir! Tu vens e empatas tudo!”

E eu chorava e o pau comia...

Coitado do meu avô!

2 Comments:

Blogger Rodrigo Sommer said...

ó.

comentei.

3/02/2006 4:42 PM  
Blogger Carol Helena said...

Vai te catar! :P

3/02/2006 5:57 PM  

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