terça-feira, abril 15, 2008

Alta mutação

Existem alguns textos do João Cabral de Melo Neto sobre como ele achava a música uma expressão ditadora, já que quem estiver por perto é obrigado a ouvir, não podemos fechar os ouvidos - eu comecei essa história e agora vou acabar então vou contar assim bem mambembe mesmo, sem nem deixar um link pra algum desses textos porque eu nem sei onde encontrá-los agora.

Concordo com ele.
Eu gosto de música, muito, mas às vezes as coisas podem se tornar chatas, confesso.
Já passei muito mal em shows com bateristas surtados, baixistas e guitarristas querendo fazer de seus instrumentos armas mortais e percebo que as pessoas adoram.
Tem muita banda legal que faz shows mais barulhentos pra poder se encaixar nas noites badaladas da cidade.
Pra mim é absolutamente impossível assistir a um show desses.
Tem alguns que vou com tampões de ouvido. Se não fico mal, minha cabeça começa a girar e eu sinto uma dor e um enjoo dos infernos além daquela insatisfação de sempre, o "não precisava disso".
O que acontece é que eu sou sensível, não adianta derrubar o saleiro no prato que isso não acrescenta sabor, pelo contrário, só vai deixar salgado e evitar que se perceba os sabores dos ingredientes que compõem aquele prato - além de poder matar um hipertenso. O sal é necessário numa quantidade certa. Mas assim como tenho que mandar ver no sal lá no meu trabalho porque as pessoas são insensíveis o bastante pra não perceber muita coisa, também são insensíveis pra fazer e ouvir um som "baixo" e minimalista, pior ainda se ele for triste. Nem vou entrar na questão do (mau) gosto, isso fica pra outro dia (ou nunca), agora vou terminar a história do poeta modernista:
Ao final da vida ele ficou cego, não saia mais de casa e impossibilitado de escrever ou de trabalhar como arquiteto passou a ouvir música em um radinho a pilhas, música clássica.
Reza a lenda que ele morreu com o radinho na orelha.
Eu acho essa história linda, porque através das impossibilidades ele se deixou sensibilizar pelo que teve preconceito pela vida inteira. Uma história incrível, assim como minhas músicas preferidas, lindas e tristes.
Só que não consigo deixar de pensar que na verdade isso foi só uma história inventada pra deixar tudo mais poético, penso que na verdade o radinho transmitia um jogo classificatório do Santa Cruz contra o Náutico.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ouvir um jogo no radinho tem seu romantismo...

4/18/2008 1:18 PM  

Postar um comentário

<< Home