My pills shot me down

A medicação deveria evitar que eu entrasse no estado em que me encontro agora.
Mas eu estou aqui, não?
Sim, estamos no buraco, de novo.
O verbo na terceira pessoa ajuda a diminuir um pouco essa dor filha da puta no peito - ou não.
E olha nos meus olhos que você vai saber que eu não tenho angina.

Tá certo, você vai dizer que a medicação ajudou muito, que eu melhorei em X e Y aspectos da minha vida, mas e daí?
Olha pra mim aqui atolada e imóvel que você vai entender o que eu tô tentando dizer.
Quer saber?
Ao menos antes da medicação eu escrevia mais e muito melhor.
Eu era a responsável por mim.

Hoje sou uma pessoa contida pelas químicas, com menos altos e baixos e com um mundo inteiro aqui dentro que vai me pesando tanto...
E o buraco fica cada vez mais profundo, mas não parece pra quem olha lá de cima.
Até porque eles não estão mesmo muito interessados no meu lodo emocional.
O que interessa é eu estar “ativa“, “prática“, “menos emotiva“ e “com humor menos oscilante“.
Ou seja: trabalhando muito e ganhando dinheiro pra pagá-los bem.

Muito obrigada pela tentativa doutores, mas pesar de todos os esforços durante os últimos cinco anos, vocês não conseguiram fazer com que eu me tornasse mais uma imbecil!