segunda-feira, janeiro 15, 2007

Domingo-feira

Liguei pra minha avó e disse que hoje tinha sido dia de feira, mas que Rodrigo tinha ido sozinho, eu tinha ficado dormindo.

Disse que eu me lembrava de quando ela me levava à feira e eu roubava batatas bolinha e punha nos bolsos, lambia todas as coisas que podia pegar, e chorava muito até ela ir na barraca do biscoito de polvilho e comprar um saco enorme de biscoito salgado que eu nem conseguia carregar sozinha...

Ela nem lembrava mais da sacola vermelha que pra mim era o sinal de que ela ia à feira e não à Londres, como ela dizia pra se desvenciliar de mim: “vou à Londres, que é terra de gaiteiros, ó garota!“

Não disse que aprendi a pechinchar com ela e que tento ensinar a Rodrigo, mas nós dois juntos na feira somos um desastre.

Ela me disse que o homem da barraca das laranjas é o mesmo e que o homem da barraca das batatas também é. A barraca dos ovos já mudou três vezes de dono, mas é lá que ela compra ovos mesmo assim.

Senti vontade de ir à feira com ela, roubar uma batata e mordê-la pra lembrar aquele sabor daquele tempo em que até batata crua era legal.