domingo, agosto 05, 2007

Eu tive um namoradinho que estudava agronomia, 18 anos, queria salvar o mundo da fome. Tinha um projeto de criar uma planta que cresce no oceano e dá um fruto comestível e ultra nutritivo com o qual as nações miseráveis poderiam ser abastecidas - ninguém mais brigaria por terras e assim o mundo seria salvo da miséria.
Ele levava isso à sério, tão à sério que se embrenhava por meses no meio do mato com projetos sociais em comunidades ribeirinhas e afins.

Obviamente nós não ficamos juntos muito tempo por uma série de divergências. Terminei de vez o relacionamento quando ele apareceu uns 15 quilos mais magro na minha casa com cara de louco dizendo que não deveria mais comer porque outras pessoas precisavam muito mais de comida que ele que tinha boa estrutura física e era bem nutrido.

Eu não sou tão megalomaníaca a ponto de achar que vou salvar o mundo de algum mal, até porque é uma questão de inteligência perceber que ele já está fodido mesmo e não há muito o que fazer.

Mas meus braços são muito longos às vezes.
Sou capaz de abraçar uma cozinha inteira se for preciso.

E trabalho, trabalho trabalho, e nunca sei dizer não posso, não consigo, não tenho tempo pra isso, não dá...
Eu corro, corro, nado, nado e nado no meu próprio suor pra ver se consigo merecer alguma coisa nesta vida.

Entro de cabeça e não me importo com as consequências porque eu amo a cozinha pra começo de conversa. Eu amo aquilo tudo, descobri que amo até as cozinhas sujas, com aquele chão parecido com banheiro de acampamento - não sei o que me deu, sempre odiei cozinhas sujas. Cada vez estou pior com esse amor doente!

Isso tudo só pode ser uma doença, porque no fim, meu mérito não existe. Uma mina tosca, atrevida, prepotente e arrogante (tudo que você não deve ser na vida e muito menos numa cozinha) foi contratada pro cargo que deveria ser meu pelo meu esforço e bom desempenho fazendo o trabalho de três pessoas durante o último mês.

Mérito, nessa vida, não existe!
Você tem que chegar com um diplominha que o papai pagou do Senac ou da Anhembi Morumbi e uma maleta no estilo James Bond com um equipamento que você nunca vai usar numa praça fria pra mostrar que você é bom... Só mostrar, porque ser bom mesmo, não interessa muito.

No fim acho que não sou muito diferente daquele menino, eu me fodo do mesmo jeito e provavelmente não vou conseguir chegar onde quero.

2 Comments:

Blogger Marina F. said...

Carolina, o que é seu está guardadinho, fica tranqüila. Tenho certeza que será uma cozinha linda, do tamanho deste seu amor.

Abraços.
Marina
(olhosrecemnascidos.blogspot.com)

8/07/2007 6:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Que mundo injusto dona Carolina e isso não acontece só nas cozinhas... Tomara que ela queime a mão!

8/09/2007 5:02 PM  

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