terça-feira, março 21, 2006

Papai

Meu pai é um cara engraçado, meio gago de cabelos grisalhos escondidos pela rinsagem. Todos os dias de manhã ele batuca nas panelas e na lata de café enquanto faz o café com leite e prepara o pão com queijo fresco dele. Ele inventa músicas bizarras e depois liga o rádio AM pra ouvir umas MPBs de mil novessentos e bolinha de naftalina como: "De noite eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar..."

Bem, dia desses eu contei que vou me casar.
A reação dele foi:
“Ca-ca-casar? Mas com quem?”
Eu disse que com o Rodrigo, claro.
Ele me respondeu que cada dia era um diferente por isso ele tinha que perguntar.
Tudo bem que eu já apresentei nove namorados pra ele antes do Rodrigo, mas foi durante doze longos anos da minha vida. Mas pra ele, claro, eu mudo todos os dias de namorado.

Enfim, ele não levou a coisa muito à sério.
Um mês e meio depois eu voltei pra cá pra casa dele por umas semanas até me mudar com o Rodrigo no final de Abril.
Ele questionou: “Ma-ma-maiiis você vai casar mesmo ou é só fogo de palha?”

Pra ele ‘fogo de palha’ seria morar junto com o Rodrigo sem me casar legalmente.
Eu disse que casaria mesmo.

Então, foi quando ele teve uma daquelas magnânimas idéias dele:

“Filha, então você tem que dar uma festa, eu te ajudo!”

Eu reagi e assim começamos uma bela discussão:

“Que festa pai?”

“Uma festa, você gasta um pouquinho e ganha uns vinte mil reais em presentes!”

“Pai, que viagem! Primeiro, essa conta tá muito errada, depois, eu não quero ganhar presentes. Além do mais eu não conheço tanta gente assim, e meus amigos são todos uns fodidos que nem eu!”

“Na-nã-não, a família é grande!”

“Pai, eu não me dou bem com quase ninguém da família, você sabe.”

“Mas pode ter certeza que todo mundo vai querer ir lá pra te ver casar, filha! Não precisa ser na igreja, faz que nem a tia Denise, contrata um buffet, chama o padre, o juiz e casa lá mesmo. O vestido a gente aluga, ninguém mais faz vestido hoje em dia. E todo mundo da família vai querer te ver casar, ni-ninguém vai acreditar que você está casando!”

“Pai, eu não quero festa, nem presente de gente chata da família, não quero nada disso. Esquece, não é dessa vez que você vai levar alguém no altar, a Elisa quer casar, dar festa e ter muitos filhos, você ainda tem chances com ela. Comigo, esquece!”

“Ah, ma-ma-mas não é por isso! Eu nunca achei mesmo que você casaria, nem mesmo achei que vo-você moraria com alguém. Eu já tinha perdido as esperanças há muito tempo!”