quinta-feira, maio 04, 2006

A Vila às vezes me cai bem

‘Arquitetura tosca pra ostentar o mau gosto’
É o que meu namorado sempre diz quando passa por um desses prédios toscos cheios de cantos bizarros e árvores redondas no jardim.
E a Vila Madalena agora está cheia deles, em vez das casinhas fofas, cada vez mais edifícios horrendos, construídos pra pessoas que se limitam à vida enfurnados de 8 a 10 horas em escritórios repletos de gente que só sabe falar de negócios, de marcas e operadoras de celular, do time campeão da taça putaquepariumeucu, da nova atriz da novela global que saiu na revista tal falando que nunca deu, ou das baladas da Vila Olímpia e (minha nossa!) da Vila Madalena.

É triste, mas o mundo ganha cada vez mais pessoas assim e a Vila Madalena é um reflexo disso. Ateliês por toda parte pra sustentar aquele ar de hippie que inunda o bairro. Restaurantes naturais com comida sem gosto, cafés com sanduíches e salgados de farinha de soja e afins. Bares cariocas pipocando... Enfim, o mau gosto dominou o bairro que na minha adolescência era tão bonito e divertido.

Mas a Vila Madalena ainda me encanta de vez em quando... Ainda, juro!
Esses dias tive que atravessá-la a pé. Do metrô até o começo da Fidalga.

Na Deli Paris tomei um capuccino, e como sempre, eles me serviram um daqueles que acalentam a alma e então pude prosseguir minha viagem.
Ignorei a visão tosca dos ateliês e senti um perfume incrível saindo de um restaurante na Girassol. Fiquei ali parada sentindo aquele cheiro e de repente eu senti uma vontade, uma imensa vontade de trabalhar em um desses raros restaurantes fofos que ainda persistem na Vila.

Depois de passar por aqueles bares todos e imaginar o quanto sou feliz de ter que atravessar a Vila de dia e não durante a noite com todos aqueles lugares abertos, cheguei a meu destino. Uma obrigação, trabalho. Trabalho não se nega.

Na volta, mães de mãos dadas com seus filhos voltando da escola, caminhando.
Predinhos de três andares sobreviventes aos edifícios de vinte e algumas casinhas dos anos 40 ainda existem no bairro. Nenhuma pra alugar.
A loja de conserto de roupas da senhorinha que sorria na porta.
De dentro de um carro uma mulher, histérica, buzinava por causa do trânsito parado na Harmonia.

E eu não pude agüentar, e tive que escrever tudo isso no meu caderninho!
Me sentei num murinho azul com paredes fofas de pastilhas que faziam desenhos e escrevi.

E eu andei mais, só por caminhar na Vila as cinco da tarde, olhando as pessoas, as casas, os prédios e os bares de mau gosto abrindo...
Tudo bonito naquela tarde fria de sol