segunda-feira, abril 17, 2006

Barreiras, cortes e fuscas

Deus disse: Tu irás abrir casas, não corras de teu destino.

É a terceira casa que abro e eu estou (de novo) louca e muito cansada. Porém dessa vez a coisa mudou um pouco, se fosse pra ficar do lado de fora da boqueta não teria passado da entrevista, ao ouvir as palavras “a casa inaugura oficialmente dia 25 de Abril”, eu teria desejado boa sorte e sem mais cerimônias teria ido embora, como fiz outro dia em uma entrevista para um bar novo no Itaim.

Mas o caso é que dessa vez eu passei de lado, eu atravessei a barreira. Finalmente depois de tanta enrolação, tanta indecisão e insegurança, eu entrei (arrisco dizer) no lugar que eu quero estar, um lugar que eu descobri que amo apesar de todas as desvantagens.
Sim, eu quero passar oito ou mais horas do meu dia (sem direito a finais de semana ou feriados) em uma cozinha. Mais, eu não só quero como tenho feito, e na minha primeira semana de trabalho, me cortei três vezes e sapequei o cotovelo no forno porque a cozinha é super apertada. Tenho um roxo no dedo que dói e pior, não faço idéia de como ele foi parar lá.

Mas não se trata de cortes, queimaduras, hematomas ou qualquer problema relacionado ao ofício. O que me entristece é que, como disse, a casa está abrindo, e se eu, que sempre trabalhei no salão até agora, achava que o salão era difícil de organizar, acabo de descobrir uma lei que Murph deixou passar: Se não existe organização em um restaurante, do outro lado da boqueta é tudo muito pior.

E olha, tá mais difícil do que deveria ser, muito difícil mesmo, porque eu sei bem como deveria funcionar a coisa toda. Apesar da vida toda ficar do lado de fora, eu observei bastante e posso dizer que eu sei bem a necessidade de uma mis en place bem montada, e eu queria poder ter uma sem que ninguém se meta e pegue minha salsinha ou meu sal fino e eu fique louca procurando - "Ohmeudeus, onde deixei minha salsinha??” - quando preciso preparar alguma coisa pra acompanhar o bife de chorizo que vem da chapa dali a dois minutos. Existem problemas da casa e problemas dos funcionários, um complementa o outro.

Mas, eu quero aprender tudo o que existe naquela cozinha, ganhar agilidade e depois ir pra outra que me ensine mais outras tantas coisas que eu quero muito e preciso saber. Queria muito que a próxima fosse repleta de pessoas que pudessem me ensinar coisas.

Eu não quero nadar quando as comandas chegarem em seqüência por falta de organização, porque nadar assim me desespera, me tira o centro, me deixa triste e aí eu não paro de pensar e reclamar de uma coisa que deveria ser o céu pra mim. Porque acho que cozinhar é pra mim como dirigir em uma estrada de asfalto liso num dia de calor e sol sentindo o vento bater na cara pra quem gosta de dirigir - prazer sublime e puro.

O foda é dirigir um fusca 68 que quebra toda hora.
Porém eu tenho esperanças de que ele seja consertado e me leve ao Chile, ou à Bahia, como já ouvi relatos de alguns viajantes que conseguiram chegar aos seus destinos longínquos felizes. É só ajeitar umas peças fora de lugar e pegar a estrada.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

espero realmente q seu arroz tenha melhorado, mas continue longe do suflê de cenoura (TTL!)

ah, parabéns!

4/18/2006 9:31 AM  
Blogger Carol Helena said...

Hahaha... Meu deus, só queimando meu filme!
O que era mesmo TTL? Tudo tem limite? Era isso? rs
Beijo!

4/18/2006 4:01 PM  

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