segunda-feira, junho 05, 2006

Persistência

A vida pode ser muito boa mesmo quando os obstáculos são maiores do que você acha que consegue saltar. E de repente você salta e passa e às vezes os obstáculos te fazem cair, e os machucados doem, mas te fazem uma pessoa melhor. É aquela coisa que toda avó diz: “o que não me mata me fortalece”.

Estou aprendendo muitas coisas, não só na cozinha, mas sobre sobrevivência, e principalmente, sobrevivência dentro de uma cozinha.

Minhas mãos têm cortes e queimaduras leves e minhas pernas doem de pedalar na minha bicicleta duas idas e duas voltas pro trabalho e pra casa nos dois turnos.

Perdi a exibição de uma peça que eu queria muito assistir, perdi um casamento que eu seria madrinha, não ligo mais o computador porque chego em casa cansada demais pra qualquer coisa que não seja cair na cama e dormir até o último minuto, levantar e sair correndo, na verdade pedalando, em direção ao trabalho.

Cortar, picar, passar na mandolina (a mão junto), assar, ferver, conferir geladeiras, saber onde está tudo exatamente, dentro de cada gaveta do freezer, cada porta de geladeira e pote colocado milimétricamente medido com o esquadro, projetado pra estar ali. E ai de quem colocar mais pro lado ou perder tempo procurando!

Água é uma dádiva.

A cada xingo e grito que tomo da chef é um copo de água que engulo. Pá-pum, passou, refrigera a mente e estou pronta pra mais um “Caralho que porra! Larga isso! Larga isso! Você demorou demais, vai mexer o risoto de brie!”

Saem os pratos da cozinha e eu tomo um copo de água enquanto ela apresenta tudo no salão e recebe os elogios.

Volto pra cortar picar, assar e estou nova pra outro: “menina, não é assiiiiim, não é assiiiim!!!”

Aprendi que não importa que eu esteja certa, e também não importa que eu esteja me esforçando ao máximo, eu tenho que fazer mais e acabou. Não existe ‘não dá tempo’, ‘não cabe’, ‘não posso’ ou ‘não consigo’.

Eu abaixo a cabeça, peço desculpas quando ela grita com mais veemência e faço tudo do jeito dela, mesmo ela mudando de jeito de um dia pro outro, mesmo errando sem culpa, mesmo acertando mas ela dizendo que errei.

Quando ela diz que estou errada é porque estou errada e ponto final.

A principal qualidade pra se entrar em uma cozinha é a humildade, a segunda é a perseverança e só depois vêm todas as outras qualidades necessárias.

Eu estou aprendendo a ter as duas principais.

Agora eu entendo o que é honrar a dólmã que minha amiga Leone tanto dizia.

1 Comments:

Blogger Adriano Vannucchi said...

Pô moça, você sabe o quanto eu acho bacana você estar no restaurante. Eu ia realmente escrever algum post bacana e bonito sobre isso tudo...

Mas o Risoto de Brie arruinou minha concentração...

Humm...


Risoto de Brie...

fome...

bjs
a

6/06/2006 11:41 AM  

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