domingo, abril 15, 2007

Azul, amarelo e vermelho também

Semiótica é uma coisa doida.
Quando estava na faculdade de artes plásticas rolou uma discussão da equivalencia das cores com os sentimentos pra cada um.
Eu queria tanto ter cores, mas eu só tinha gostos na boca.
Confessei à professora, ela disse que eu deveria transformar esses gostos em cores.
Nunca consegui.
Me sentia muito mal por isso.

Desisti e fui pra faculdade de desenho industrial.
Pra pagar a mensalidade exorbitante sozinha eu fazia chocolate em casa e vendia na faculdade e em vendinhas perto de casa. Tinha meses melhores que outros mas pra garantir eu sempre descolava algum evento pra trabalhar de garçonete.

Desisti pela segunda vez da maldita faculdade.
“Sem ela você não é nada“ - gritava meu pai, desesperado pra eu voltar praquela mediocridade toda.
E eu, desesperada pra achar algo que me desse um mínimo de prazer, que me fizesse querer voltar lá todos os dias.

Eu fiz um milhão de coisas chatas por alguns anos até achar um emprego de garçonete num lugar legal, que me fazia feliz.

Um ano dessa vida e não dava mais pra fugir, era mesmo a cozinha onde eu queria estar.
Cansei de sentir o cheiro dos pratos prontos na minha mão e queria sentir todos os cheiros de todos os pratos e ser responsável por parte daquilo tudo.

E estar lá dentro é mesmo uma coisa maravilhosa.
Aquele restaurante que me deu um emprego de garçonete me salvou.

Às vezes eu fico achando que seria mais fácil ser como as pessoas que sonambulam por aí, o que importa é o dinheiro e qualquer relacionamento está bom, contanto que tenha alguém pra esquentar o pé nas noites frias...

Enfim, quanto à semiótica, continuo achando uma coisa doida e honestamente, pra mim os sentimentos não têm cor, e nunca terão.

O que me faz ser mais ou menos equilibrada é estar casada com quem eu amo e fazer todos os dias o que eu amo, mesmo que seja pra ganhar o piso e ter que contornar as dívidas no final do mês.