terça-feira, fevereiro 06, 2007

Psicopatia aplicada

Eu tenho problemas, não é possível... Me mudo pro deserto de Atacama mês que vem!

A vizinha ao lado, se fazia de minha amiga, tocava minha campainha toda vez, havia perdido a chave do portão. Me convidava (intimava - me empurrava pra dentro do apartamento dela) pra cafezinhos vespertinos e quando fiquei doente no final do ano, veio aflita bater à minha porta dizer que estava muito preocupada com minha tosse, me ofereceu mel, disse que eu poderia bater lá se precisasse de qualquer coisa e essas “gentilezas“ todas que eu particularmente dispenso, mas...

Neste mesmo dia, um pouco mais tarde, Rodrigo por uma emergencia saiu e fui obrigada a pedir comida por telefone e deixar o entregador subir até a porta do meu apartamento. Isso é contra as regras do condomínio, eu bem sei, mas burlei por um simples motivo: eu não tinha forças pra descer e ir buscar minhas malditas esfihas de 56 centavos!

Bem, eu já estava infezada de tantas gentilezas e batidas na minha porta e como minha janela da lavanderia dá de frente pra dela, ela ainda me cumprimentava pela manhã chamando meu nome seguido de um sonoro “bom dia“ e um belo sorriso atrás de um “como vai??“. Um bom humor extraterreno daqueles que te tiram o pouco bom humor que você teve que escavar fundo pra conseguir naquele dia cinza.

Resumindo: entre essas e outras, eu estava ficando de saco cheio de ter que cumprimentar uma pessoa de dentro da minha própria casa enquanto ainda estou de pijama e fui obrigada a ir até a lavanderia buscar uma calcinha porque descobri que não tinha a que eu precisava (e às vezes não tem nenhuma mesmo) na minha gaveta.

Voltando...
Àquele dia das esfihas o entregador foi direto na porta dela porque ela abriu a porta antes de mim. Ela não disse nada.

No dia seguinte Rodrigo saiu pra uma reunião cedinho e pegou a maldita vizinha deletando ao Guarda Belo (o zelador que queria ser PM e não conseguiu) que eu deixei o entregador subir.

Logo Guarda Belo veio tirar satisfações com Rodrigo que explicou tudo e pediu desculpas.

Agora eu pergunto: precisava?

Eu me senti uma idiota de aceitar contra minha vontade esses cafezinhos e conversinhas estúpidas que me obriguei a ter por simples educação e compaixão por um ser absolutamente carente e pegajoso daqueles. Se ela batia na minha porta pra me oferecer mel e café e sei lá mais o que, porque não veio falar comigo sobre o entregador?

Foi a gota d´água!

Ela ainda veio perguntar pra Rodrigo outro dia porque eu não falo mais com ela, e Rodrigo (que às vezes parece que engoliu uma pomba da paz) disse que não sabia de nada.

Segundo ele eu deveria manter a política da boa vizinhança porque num caso como o que ocorreu hoje ela poderia nos ajudar...

O que aconteceu hoje?

O vizinho do outro lado que é todo moderno do eletronico e tem uma cara que nunca gostei nos trancou pra dentro de casa porque ontem esquecemos a chave pro lado e fora da porta.

E não sei porque raios acordei assustada às cinco da manhã e sai da cama, fui fazer carinho na Bisteca, ela estava envolta a papéis higiênicos usados roubados do lixo e mastigados na caminha dela (safada!). Imediatamente fui tirar o lixo do banheiro e jogar na lata do prédio, foi quando percebi que nem com minha chave conseguiria sair de casa. A chave tetris trancada e pendurada pelo lado de fora me impedia.

A única pessoa que passa pela minha porta depois do horário em que cheguei ontem é ele e a turminha dele, a velhinha mala do 73 é que não foi!

Deu vontade de atear fogo neste andar!

As fantasia de mandar pintos de borracha e cocôs da Bisteca passou, agora tenho vontade de
esperar cada um sair no corredor e puxar pro meu apartamento com uma cordinha de pesca, tipo filme B de assassinato norte-americano... Os detetives não entenderiam porque escolhi perfis tão diferentes, uma velhinha mala, uma cinquentona simpática e um junkie envolvido com o tráfico de drogas em raves e sua namorada de dreads loiros - estes últimos eu torturaria muito antes de matar!