quinta-feira, julho 13, 2006

O Bar

Lendo o blog do Mário Bortolottto eu percebi que eu fui uma espécie de “criança de bar”, mas não porque meus pais me levassem ao bar, não por obrigação e sim por vontade de ir ao bar.

Na minha família quem freqüentava bares era o meu avô.
E era eu que sempre queria ir pro bar com ele. Até chorava pra conseguir...

Toda família sabia que ele ia ficar bebendo e achavam que aquele ambiente não era bom pra mim. Minha avó às vezes apoiava porque ele voltava mais cedo quando ia comigo.

Minha mãe, chata de galochas, tentava evitar que eu fosse com ele, mas quando meu avô dizia “você também gostava de ir comigo ao bar, eu sempre te levei” ela não conseguia dizer não, às vezes meu pai até brigava com ela por conta disso.

Pro meu pai que teve um pai alcoólatra e violento, o bar deve trazer lembranças ruins, e até hoje, que nossas vidas não são mais interdependentes, ele pergunta:
“Onde é que você fica até essa hora?”
O que posso dizer?
“No bar, oras!”

Ele não entende...

Enfim, ir ao bar com meu avô era o máximo.
Ele e os amigos de boteco dele me enchiam de deeplicks (aqueles pirulitos com pózinho), refrigerantes e balas de leite.

Às vezes meu avô jogava dominó e eu ficava no colo dele brincando de jogar também, ele me dava a peça na mão pra eu colocar no lugar certo na mesa.

Quando era xadrez eu já me entediava mais, mas depois de uma certa idade eu aprendi a jogar também.
O tabuleiro dele ficou pra mim, junto com o cachimbo (que eu pedia pra pipar e às vezes ele deixava), as fichas de poker e os dados.

Eu lembro bem, quando dava tédio corria em volta do balcão, me enfiava em baixo das mesas e quase sempre achava alguma coisa pra brincar ou alguma barata semi-morta pra esmagar.

A uma certa altura da vida do meu avô ele teve que parar de beber e depois de fumar cigarro e cachimbo.
Ele vinha pra minha casa ao invés de ir pro bar.
Foi como uma terapia pra ele, e nós ficávamos mastigando balas de leite, jogando baralho e xadrez.
Ele contava histórias de bar pra mim.

Às vezes parávamos em algum lugar pra tomar uma cervejinha e comer queijo provolone temperado. Coisa pouca, só pra matar as saudades.

Fico pensando, talvez seja mesmo por isso que eu gosto tanto de sentar e conversar num bar.
Gosto tanto que cheguei a trabalhar neles.

Trabalhei mais em restaurantes, tá certo, mas enfim, é pro bar que eu gosto de ir depois de sair do restaurante.

1 Comments:

Blogger Rodrigo Sommer said...

Eu SOU uma criança de bar!

7/13/2006 9:41 PM  

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