sábado, junho 16, 2007

Eu nunca entendi (parte 1)

Ele apareceu no café combinado de moleton cinza desbeiçado, calça jeans e tênis nike.
Tinha cara de moleque, e um moleque feio.
Eu nunca entendi porque eu fui lá.
Eu tinha acabado de fazer 24 e ele dizia ter 22, mas vi a identidade jogada sem querer na mesa enquanto ele foi “mijar“, 19 anos mal feitos.
Eu nunca entendi porque não fui embora naquela hora.

A casa dele parecia cenário de filme B de terror anos 80.
Os pais, que viajavam todo final de semana, tinham um gosto gótico clássico para os lustres e adornos, o mais brega dos tecidos cobria o sofá rebuscado. Uma boneca de porcelana com a ponta do nariz quebrada em cima do móvel parecia um ser sobrenatural que me analisava criticamente.
“Essa é minha casa, fica a vontade, se quiser cerveja tem lá na cozinha“, depois de algum silêncio fechando a porta.
Eu nunca entendi porque não fui embora antes de “mais uma cerveja“.
Os copos imprestáveis entre panelas e panelas dentro e em volta da pia (era feriado prolongado), cheiro escroto de miojo sabor cheddar - não tenho coragem nem de comer cheddar de verdade, acho que deve ser um daqueles enganos, foi fabricado pra reformar paredes mas algum norte-americano que precisa de redução de estômago colocou no hamburger, e assim foi da seção de ferragens pra geladeira de frios.

Direto da lata, tomei muito mais que “a última“ e pior (óbvio), fui pro quarto dele.
A única coisa útil eram exemplares de “Numa Fria“ e “Hollywood“, fim.
Os cds davam medo. Os dvds, todos óbvios. O cheiro, nem tão óbvio - os lençóis não eram trocados, de certo, há meses , o chão parecia ter cerveja grudada de algum lugar do passado. Eu sentia uma espécie de ar pesado, desses que se eu pudesse ensaboar nunca faria espuma.
Eu estava acostumada com quartos sujos, mas daquele jeito, era difícil de encontrar.
Adornos infantis, como o personagem do Massacre da Serra Elétrica, Jason e afins, se espalhavam pelos móveis e eram as únicas coisas sem dois dedos de poeira daquele lugar - só ele podia encostar naqueles bichos. Cartazes amassados de modelos tomando cerveja de biquini cobriam as paredes e eu não queria dizer de novo, mas não sei, juro que não sei porque não saí correndo dali!
...

1 Comments:

Blogger Projeto Miolo Mole said...

Carol, vc pode me enviar o seu email ou me responder aqui: luana_vignon@hotmail.com (é sobre o lance lá ;)

6/18/2007 12:19 PM  

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