Até outro dia, eu odiava todas as pessoas até que elas me provassem que não mereciam.
Eu abominava um cara, ele era amigo dos meus amigos, e eu não conseguia entender porque meus poucos amigos tinham tantos amigos idiotas. A única explicação é que o mundo é abarrotado de idiotas, claro, mas porque as parcas pessoas legais têm que se envolver com eles(?), eu nunca tinha entendido.
Bem, o caso é que meus amigos achavam esse cara o máximo e eu tinha a mais plena certeza que ele era o babaca mor, um bêbado idiota, um completo cretino que se dizia ator - duvidava inclusive da capacidade profissional do sujeito já que ele era um redondo imbecil.
Um dia desses num bar, encurralada (essa palavra não deveria existir) entre a mesa e as cadeiras com muitas pessoas em volta, completamente bêbada e sem reação pra sair de lá correndo (já que eu tanto odiava pessoas e elas me cercavam falando alto e se divertindo - horror) fui obrigada a ouvir por alguns minutos o que o completo babaca amigo dos meus amigos dizia. O cara falou aqueles minutos como se estivesse em um bom monólogo, mas ele dizia coisas interessantes e eu fui obrigada a responder a certo momento.
No final da noite eu estava às gargalhadas com o ex-imbecil, achando o cara o máximo, me divertindo muito e saí de lá saltitante com o sol raiando, expulsa pela dona do bar.
Dias depois fui ver o sujeito em cena e tive que admitir, o cara é foda, mesmo. Depois da peça conversamos e rimos de novo e eu percebi o óbvio: passei a maior parte da minha vida fechada pra aventura de conhecer pessoas e me deixar divertir com elas.
Devo ter deixado muitas pessoas legais passarem pela simples falta de paciência de conhecê-las de peito aberto. Me mantive fechada em meu mundinho triste e frio onde ninguém vale a pena. Meu mundinho tapado com minhas regrinhas inflexíveis. E as pessoas passaram como águas de cachoeira e desaguaram em algum lugar que eu não faço idéia onde fica.