quinta-feira, julho 27, 2006

Um E-Bigo

Às vezes eu sinto vontade de escrever sobre coisas que vi, ouvi, li ou provei por aí.
Tenho descoberto coisas fodas – é isso, só consigo dizer, “foda”, “muito foda”, ou no máximo, “medíocre”.

Medíocre eu!

É como se eu ficasse paralisada na frente da tela em branco.
Sem verbo ou adjetivo.

Branco.

Vou montando uma ou outra palavra e no fim, quando organizo essa sopa de letrinhas toda, tudo se trata sobre o meu próprio umbigo.

Dele eu bem entendo.

Afinal é o princípio de tudo.
Nosso umbigo.
Por onde começamos pra conseguir entender o mundo lá fora.

Meu umbigo.

Ele tem doído.

terça-feira, julho 18, 2006

Miscelânea

Uso minhas tamancas de cozinha pra ir até a sala assistir tv no meio da madrugada

Voltou sozinha a essa hora??

Falo coisas que não queria dizer

Você tem que assumir que é bipolar e voltar pro psiquiatra

Minha cabeça dói.

Foram dez Heinekens

Ando sonhando com meu avô

Olha a tatuagem dela!

Não consigo dormir

Namê tekê shitá...

E sonhei também com as cortinas da casa nova que eu nem sei se vai existir um dia

Talvez dê na mesma despachar os filmes ou ir pro Japão levando na bagagem!

Acho que são muitos pensamentos dentro da cabeça

Esse filme é foda!

Vomitei de tanto chorar no sábado

Carol, cozinha o macarrão?

Ainda sinto vontade de vomitar

Você foi brincar de casinha

E meus pensamentos se confundem com coisas que ouvi

Ela é teimosa igual à mãe

Me sinto mal

quinta-feira, julho 13, 2006

O Bar

Lendo o blog do Mário Bortolottto eu percebi que eu fui uma espécie de “criança de bar”, mas não porque meus pais me levassem ao bar, não por obrigação e sim por vontade de ir ao bar.

Na minha família quem freqüentava bares era o meu avô.
E era eu que sempre queria ir pro bar com ele. Até chorava pra conseguir...

Toda família sabia que ele ia ficar bebendo e achavam que aquele ambiente não era bom pra mim. Minha avó às vezes apoiava porque ele voltava mais cedo quando ia comigo.

Minha mãe, chata de galochas, tentava evitar que eu fosse com ele, mas quando meu avô dizia “você também gostava de ir comigo ao bar, eu sempre te levei” ela não conseguia dizer não, às vezes meu pai até brigava com ela por conta disso.

Pro meu pai que teve um pai alcoólatra e violento, o bar deve trazer lembranças ruins, e até hoje, que nossas vidas não são mais interdependentes, ele pergunta:
“Onde é que você fica até essa hora?”
O que posso dizer?
“No bar, oras!”

Ele não entende...

Enfim, ir ao bar com meu avô era o máximo.
Ele e os amigos de boteco dele me enchiam de deeplicks (aqueles pirulitos com pózinho), refrigerantes e balas de leite.

Às vezes meu avô jogava dominó e eu ficava no colo dele brincando de jogar também, ele me dava a peça na mão pra eu colocar no lugar certo na mesa.

Quando era xadrez eu já me entediava mais, mas depois de uma certa idade eu aprendi a jogar também.
O tabuleiro dele ficou pra mim, junto com o cachimbo (que eu pedia pra pipar e às vezes ele deixava), as fichas de poker e os dados.

Eu lembro bem, quando dava tédio corria em volta do balcão, me enfiava em baixo das mesas e quase sempre achava alguma coisa pra brincar ou alguma barata semi-morta pra esmagar.

A uma certa altura da vida do meu avô ele teve que parar de beber e depois de fumar cigarro e cachimbo.
Ele vinha pra minha casa ao invés de ir pro bar.
Foi como uma terapia pra ele, e nós ficávamos mastigando balas de leite, jogando baralho e xadrez.
Ele contava histórias de bar pra mim.

Às vezes parávamos em algum lugar pra tomar uma cervejinha e comer queijo provolone temperado. Coisa pouca, só pra matar as saudades.

Fico pensando, talvez seja mesmo por isso que eu gosto tanto de sentar e conversar num bar.
Gosto tanto que cheguei a trabalhar neles.

Trabalhei mais em restaurantes, tá certo, mas enfim, é pro bar que eu gosto de ir depois de sair do restaurante.

terça-feira, julho 11, 2006

Santa Clara clareai

Minha família vai pra Juquehy desde que Juquehy se escrevia só com “i”.
Juqueí.
Desde de o tempo em que ninguém tinha ouvido falar em juquehy e as crianças da minha escola diziam que eu era louca, eu saía mais cedo toda sexta-feira porque minha mãe ia me levar pro Juqueri.

Naquele tempo se levava de seis a nove horas de viagem, descendo pela Anchieta, passando pela balsa de Bertioga - “Qué cocada, amendoim, paçoca? Só cinco cruzeiros, qué?!” – atolando na estrada de terra, subindo o morro da Barra do Una com os pneus patinando... Tudo isso só pra ver o mar de Juquehy.

Não tinha TV e toda noite a gente jogava “O Loto” pra minha bisa ficar feliz e gritar “LINHA!!!” mesmo sem completar a linha, e dizer que alguém lhe roubou um feijão da cartela.

Quando chovia muito, e às vezes chovia por dias e dias, minha bisa inventava, e lá ia meu avô subir no telhado pra colocar um prato com ovos e farinha pra Santa Clara clarear.

Quando trovejava a minha bisa colocava um lenço na minha cabeça, um lenço na cabeça dela e me pegava no colo. A gente rezava um terço pra Santa Clara e um terço pra Nossa Senhora de Fátima pra que elas não deixassem que um raio nos partisse ao meio.

Eu me sinto um pouco mal em dizer, mas até hoje, eu morro de medo de tempestades e quando troveja ainda rezo pra Santa Clara clarear.

Esses últimos dias eu andei com medo, me senti em tempestades.
As pessoas à minha volta estão sob o efeito de raios, trovões, vento sul trazendo mágoas. Fico tentando achar uma solução, que pensando bem, não depende de mim.
É triste.

Então, eu estou aqui, esperando clarear, e até que tenho tido bons sinais, umas nuvens se dissipando... Mas eu pretendo continuar rezando pra Santa Clara clarear mais, e me dar muitos dias de sol porque eu bem que ando precisando que essa chuva vá embora de vez.

sexta-feira, julho 07, 2006

A língua e o pinto

Eu, com minha mediocridade de garota de classe média criada em colégios de freira, acho até que escrevo razoavelmente bem.
Dá pra entender, não dá?

Quando me comunico verbalmente, a coisa é diferente, eu acabo por me esvair pelos caminhos e não chego ao ponto que queria.

Isso acontece muito também quando ando sozinha pelo centro, eu penso em tantos caminhos que às vezes não consigo chegar onde quero.
Me perco através das ruas e pensamentos e acabo tendo que ligar pra alguém e pedir socorro porque estou no Largo da Concórdia, mas queria mesmo era ir em direção á Liberdade...

Na fatídica época do colégio de freira, cheguei a tirar muitos zeros em provas orais pelo simples fato de ser uma prova oral e não escrita. Acho que quando escrevo eu consigo me focar mais no que quero dizer e ao fim, tenho o poder de tirar metade daquela baboseira toda que escrevi – sempre fazia provas com rascunho.

Quando falo, cortar coisas inúteis é impossível, as palavras pulam da minha boca sem controle e eu acabo por dar uma receita de robalo com pupunha ao invés de contar sobre aquele dia em que eu fui quase atropelada andando na calçada.

É inevitável, e daí aparecem os famosos “erros de comunicação”.
Eu quero dizer que minha amiga está grávida e o bebê vai nascer logo e a pessoa ao meu lado entende que eu acho que os homens precisam se sentir superiores as mulheres, nessa hora, um outro amigo vira e diz: “Implante um pinto!”

Eu não posso ficar brava, fui eu que soltei um monte de informações desconexas e bizarras e o cara achou que eu dizia absurdos feministas, em contraposição, ele falou um absurdo machista.

Nessas horas faz até algum sentido pensar na hipótese de implantar um pinto, dizem que os homens falam menos.