segunda-feira, março 27, 2006

Seis meses e uma vida toda

E sexta-feira fez seis meses que estamos juntos.
Foi um final de semana legal, andamos de mãos dadas cantando, comemos o melhor Gyosa da minha vida, achamos um lago, almoçamos com os pais dele, conversamos sobre nossa vida juntos, jantamos - não necessariamente nesta ordem.

Quando paro pra pensar assim, me lembro do começo...

Foi engraçado, ele não conseguia andar de mãos dadas comigo.
Depois de passarmos a primeira noite no meu antigo apartamento na Nove de Julho, desci na mercearia do Mister Burns (o dono parecia mesmo o Mister Burns dos Simpsons) comprei Toddynho com bolacha Passatempo pro café da manhã, comemos e saímos meio apressados - eram três da tarde e ele tinha um almoço de família que havia começado às duas, eu fui encontrar uma amiga.

Subindo a ladeira da Nove de Julho pra Paulista eu tentei segurar a mão dele. Ele se deixou segurar, porém, segundos mais tarde a ‘segurada’ se tornou impraticável. Minha mão agarrada na dele estava na altura do meu rosto! Ele foi falando, falando, falando e com isso levantando a mão a cada palavra, até que parei de andar, segurei a mão naquela altura, olhei pra ele e disse rindo: “Acho que você não quer andar de mãos dadas, não é?”
Ele, todo desconsertado, disse que na verdade era uma questão de prática.

Logo comecei a fazer umas piadinhas, e ele contnuou dizendo que praticaria em casa com uma boneca dessas de vitrine, primeiro parado, depois na esteira.
Eu instiguei, trocamos e-mails sobre o assunto que discorriam desde receitas de como fazer picanha macia pra não precisar soltar as mãos pra cortar a carne e comer, até fotos da Love Toilet , a privada para casais que se amam do Saturday Night Live!

Ele alegou ter achado o treinamento ideal e disse que já estava pronto para uma nova prova e enfim, dias depois, nos encontramos, conversamos sobre outras coisas e sem querer descemos a Augusta de mãos dadas, assim naturalmente, como tudo na nossa vida juntos.

É por isso tudo e por outras tantas coisas inenarráveis que eu não quero passar nem mais um dia além do previsto sem morar na mesma casa que ele.

Esticando

E então quando você pensa que os problemas com a sua família ficaram para trás, você descobre que eles estão lá exatamente no mesmo lugar em que você os deixou quando empacotou suas coisas pra sair da casa do seu pai.
Mas, incrivelmente, eles não são maiores do que você agora. Na verdade você cresceu, os problemas são do mesmo tamanho e estão milimetricamente posicionados no mesmo lugar, o que acontece é que depois de todas essas idas e vindas, você está mais forte e pode olhar de um ângulo diferente, perceber que eles não são tão ameaçadores como antes você os enxergava...

E de repente eu vejo que posso fazer parte da minha família de novo.
Idas e vindas as vezes são boas!

terça-feira, março 21, 2006

Papai

Meu pai é um cara engraçado, meio gago de cabelos grisalhos escondidos pela rinsagem. Todos os dias de manhã ele batuca nas panelas e na lata de café enquanto faz o café com leite e prepara o pão com queijo fresco dele. Ele inventa músicas bizarras e depois liga o rádio AM pra ouvir umas MPBs de mil novessentos e bolinha de naftalina como: "De noite eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar..."

Bem, dia desses eu contei que vou me casar.
A reação dele foi:
“Ca-ca-casar? Mas com quem?”
Eu disse que com o Rodrigo, claro.
Ele me respondeu que cada dia era um diferente por isso ele tinha que perguntar.
Tudo bem que eu já apresentei nove namorados pra ele antes do Rodrigo, mas foi durante doze longos anos da minha vida. Mas pra ele, claro, eu mudo todos os dias de namorado.

Enfim, ele não levou a coisa muito à sério.
Um mês e meio depois eu voltei pra cá pra casa dele por umas semanas até me mudar com o Rodrigo no final de Abril.
Ele questionou: “Ma-ma-maiiis você vai casar mesmo ou é só fogo de palha?”

Pra ele ‘fogo de palha’ seria morar junto com o Rodrigo sem me casar legalmente.
Eu disse que casaria mesmo.

Então, foi quando ele teve uma daquelas magnânimas idéias dele:

“Filha, então você tem que dar uma festa, eu te ajudo!”

Eu reagi e assim começamos uma bela discussão:

“Que festa pai?”

“Uma festa, você gasta um pouquinho e ganha uns vinte mil reais em presentes!”

“Pai, que viagem! Primeiro, essa conta tá muito errada, depois, eu não quero ganhar presentes. Além do mais eu não conheço tanta gente assim, e meus amigos são todos uns fodidos que nem eu!”

“Na-nã-não, a família é grande!”

“Pai, eu não me dou bem com quase ninguém da família, você sabe.”

“Mas pode ter certeza que todo mundo vai querer ir lá pra te ver casar, filha! Não precisa ser na igreja, faz que nem a tia Denise, contrata um buffet, chama o padre, o juiz e casa lá mesmo. O vestido a gente aluga, ninguém mais faz vestido hoje em dia. E todo mundo da família vai querer te ver casar, ni-ninguém vai acreditar que você está casando!”

“Pai, eu não quero festa, nem presente de gente chata da família, não quero nada disso. Esquece, não é dessa vez que você vai levar alguém no altar, a Elisa quer casar, dar festa e ter muitos filhos, você ainda tem chances com ela. Comigo, esquece!”

“Ah, ma-ma-mas não é por isso! Eu nunca achei mesmo que você casaria, nem mesmo achei que vo-você moraria com alguém. Eu já tinha perdido as esperanças há muito tempo!”

sábado, março 18, 2006

Um pra trás dois pra frente

Estou aqui sem conseguir dormir pensando em tudo que tenho que embalar em casa, casa essa que depois de domingo não mais existirá. Voltarei pra casa do meu pai e lá ficarei até encontrar um imóvel pra morar com meu namorado que deixará de ser namorado também.

Tudo mudando de novo na minha vida e embora essa resolução de voltar por umas semanas pra casa do meu pai seja um passinho atrás pra dar dois passos à frente, sinto uma agonia misturada com ansiedade. Na verdade acho que é medo.

Não sei, não ter mais minha casa, meu refúgio, minha bagunça, minhas paredes escritas com minhas poesias preferidas...

Ânsia.

Preciso achar uma casa espaçosa em local de fácil acesso, barata e tudo isso rápido!
Acha difícil?
É quase um milagre, mas eu vou achar!

Enquanto isso ele me ensina a dançar...

Existem mais coisas entre um blog e seu dono do que sonha um internauta qualquer

Sempre crio um novo blog com a intenção de ter aquela relação que eu tive com meu primeiro blog.

Era uma coisa mágica, eu escrevia todos os dias e escrevia o que eu bem entendesse, sem nenhum tipo de bloqueio, sem me importar com quem leria aquilo.

Na verdade eu pouco me importava inclusive com o que falavam de mim, alguns amigos que liam meu blog se chateavam com os xingamentos de pessoas estranhas que caiam lá de pára-quedas e que se chocavam com minha falta de polidez ao escrever sobre alguns assuntos, eu não.

No meu primeiro blog eu cheguei a ter por alguns meses uma média de 300 entradas únicas por dia.

Eu e ele éramos cúmplices.
Eu e ele éramos felizes.

Saudades!

quarta-feira, março 15, 2006

O mané, a puta e o corno

Voltamos pra casa e lá pelas tantas, ficamos com fome e fomos comer um X-salada no Ibotirama. Era uma coisa rápida, um x-salada e uma cerveja pra acompanhar e nada mais, queria dormir, estava cansada e meu namorado também.

Estávamos quase indo embora quando entrou uma menina MUITO estranha. E eu na hora, pressenti que aquilo era encrenca, até comentei com ele sobre como aquilo me parecia estranho.

Enfim, a freqüência anda mesmo péssima, não temos mais saco pra ficar muito tempo lá e estávamos pra pedir a conta quando um sujeito da mesa ao lado (que essa garota cumprimentou com beijos calientes) saiu arrastando tudo, inclusive eu que fui prensada entre a cadeira e a mesa, e foi chutar um mané - que estava entrando no local até o momento em que foi jogado para o lado de fora a empurrões e pontapés. Mané esse, que também estava com a garota encrenca.

Era óbvio, se tratava de um mané, uma puta e um corno, só não deveria se tratar das minhas costelas doendo - com as dos outros eu não tenho nada a ver.

Bem, só sei que o mané entrou com a cara de mané dele bem vermelha (que a essas horas está roxa) e perguntou para mim: “Você viu isso? Uuuh... Aaaahh... Meudeus, eu... nem vi nada... Quem era ele?”

Respondi de imediato: “Olha amigo, quem era ele eu não sei, mas tenho certeza que ela sabe!” – apontei pra horrorosa, que em um lapso de arrependimento (ótima atuação), começou a chorar.

O corno se contorcia do lado de fora com seus enormes cornos sendo segurado por amigos e garçons (pobres garçons!) enquanto eu fazia força pra me lembrar que eu mudei, que não precisava ir lá estourar uma garrafa na cabeça dele, que ser essa pessoa cretina, nojenta e cornuda já era fardo o bastante pra ele.

Enfim, convenci meu namorado a não chamar a polícia e voltar pra casa logo, o que fez com que me arrependesse depois, lembrei que no mínimo eles seriam pegos por porte de drogas.
Aquele bando de vaquinhas e acéfalos filhinhos do papai haveriam de assinar o artigo 16!

Não assinaram... E minhas costelas ainda dóem!

segunda-feira, março 13, 2006

Sunshine

De manhã ele entrou no banho e eu fui buscar uma lixa de unha, foi quando o ouvi cantarolar a estrofe mais conhecida daquela música...

“You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray”

Eu sempre quis significar aquilo a alguém, quer dizer, sempre quis que alguém cantasse aquilo pra mim, mas nunca havia dito nem a minha própria sombra, porque afinal é um super clichê.
E nesse mundo moderno, gostar de clichês não é lá muito bonito.

Enfim, eu cantei com ele...

“You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away”

Ao final da estrofe eu disse que achava aquela música linda. Ele concordou mas disse que não sabia o porquê havia lembrado dela naquela hora durante o banho, e então foi quando ele falou: “Acho que é porque você é my sunshine”

Eu chorei e ele nem sabe disso.
Ele estava do outro lado da cortina azul, no chuveiro.

quarta-feira, março 08, 2006

Dia internacional de dar e receber botões de rosas

Fiquei chateada com o número de mulheres que vi hoje com botões de rosas nas ruas.
Na minha humilde opinião, acho que o dia internacional da mulher foi criado para nos "forçar" a pensar aonde já chegamos e aonde ainda querermos ir.

Abomino, tenho nojo, asco, verdadeiro pavor dos e-mails toscos "elas sempre estão cheirosas, elas sempre sei-la-que-raio....” digo “sei-la-que-raio” porque sempre me neguei a ler o resto.

Este ano estou decidida, deletarei todo e qualquer e-mail (e a respectiva pessoa que o enviou da minha vida) que suspeitar ser um cumprimento ou uma congratulação por eu ser mulher.

Afinal, se um homem me cumprimenta no dia de hoje por eu ser mulher, deveria eu cumprimentá-lo por ele ser homem os outros 364 dias do ano?

E em comemoração a este dia...

Conversa no ônibus:

Duas amigas entram no ônibus falando dos respectivos maridos e uma delas comenta:

“Oxi, cê num sabi, umamiga minha tem um marido daquelis que é bem machista, sab? E só quiria látráis, látrais, látrais, nada donde ela quiria”

Ela apontava pro meio das pernas ou fazia um gesto com o dedão em direção às costas

“Daí ela foi qui acabou qui dispois di um tempu ela nem sintia mairr nada, até qui otru dia ela foi pará foi nu hoxpitau! Nu hoxpitau!!! Vê se pode, um marido dessis?”

A amiga responde na lata:

“Vê si podi um maridu nãum, vê si podi é uma muié dessas!! Num si dá u respeitu! Já foi u tempu qui muié era atrelada in hómi i num pudia falá nada! Num qué do jeito quela qué? Intão qui vá procurá outra! Ninguém ta preso nãaaum!!!”

*Graças aos céus, ninguém tentou me dar nenhum tipo de agrado pelo maldito dia!

quinta-feira, março 02, 2006

O planeta da felicidade

Daí eu fui como convidada ao recém aberto restaurante da tia de uma amiga.
Na mesma mesa, havia uma família muito alegre, tão alegre que até me irritava.

Sabe, de vez em quando eu sou alegre, mas não me venha com muita alegria, demonstrando muita felicidade que eu fico chateada - pra não dizer, puta da vida.
Na verdade eu não gosto dessa alegria gratuita que as pessoas demonstram, desse bem estar com a vida, essa coisa do amor ao próximo sem restrições... Me irrita!
Porra, acho os seres humanos mais fedidos que o ânus de um asno, sabe? "Prefiro as baratas”, porquê com raras exceções os humanos são o que há de pior sobre a face terrestre.

De repente as pessoas começaram a se comportar cada vez mais assim, elas têm que mostrar ao mundo que tudo está ótimo, perfeito e maravilhoso na vida delas.
Ai eu pergunto: e se estiver mesmo, porquê há de se mostrar?
O mundo é foda, está cheio de tristezas e injustiças, ficar esfregando felicidade na cara dos outros é no mínimo falta de educação!

Enfim, ao final do jantar, minha amiga me pediu uns toques sobre o atendimento e a decoração do salão.
Eu dei, claro, disse que havia muita coisa ‘errada’ que não cabia ali naquele ambiente - sugestões, já que me pediram.

A família ‘do-ré-mi’ ficou chocada com minhas críticas, queriam que eu dissesse que estava tudo perfeito e maravilhoso porquê na alegria torpe deles, eles não enxergavam o mundo a sua volta.

Começou uma discussão e eu percebi que na verdade eles queriam que eu fosse como eles, e então eu disse que iria plastificar um sorriso e fiz uma cara com um sorriso tosco e disse: “assim está bem pra vocês?”

Nessa hora eu virei uma carteira de identidade plastificada, com uma foto 3x4 em cima, sorrindo muito e uma digital de dedão em baixo.

Acordei com falta de ar.

quarta-feira, março 01, 2006

...Vem vou beijar-te agora não me leve à mal hoje é Carnavaaal...

Foi Carnaval e eu não sei nada sobre ele.
Graças, saí quase ilesa!
Não fosse a Ivete Sangalo gritando enlouquecidamente pela tv de uma pizzaria tradicional da cidade, eu não saberia que foi Carnaval.
Agora você me pergunta: Uma tv em uma pizzaria tradicional da cidade?
Eu te respondo: Sim, uma tv em uma pizzaria tradicional! E pior, não só uma tv, a pizzaria resolveu também ter um parquinho do qual as crianças saem gritando e correndo para o salão – ótimo pra quem quer comer pizza sossegado!
Mas no fim, acho que saberia sim que foi Carnaval.
São Paulo nunca ficou tão boa e fazia já uns oito meses (desde que me mudei) que não dormia tão bem.
Os ônibus quase não passavam pela avenida (uma das mais movimentada da cidade) pra onde dá a janela do meu quarto.
Sabe, sempre me irritou essa alegria sem nexo das épocas festivas. E o carnaval, especialmente, se tornou pra mim e pra quem não compartilha do mau gosto coletivo, um verdadeiro pesadelo.
Mas quem sou eu pra dizer que o mau gosto é dos outros e não meu, não é? Faço parte da minoria.
E pra não dizer que eu sou uma pessoa lastimavelmente rabugenta, vou contar uma história:

Meu namorado é um moço de gosto musical selecionado (não fosse uma tal de Shara, ou algo parecido com isso, uma cantora pop japonesa pela qual ele é incrivelmente fascinado – ainda desconfio que seja pela beleza oriental da moça e não pelo que ela canta, mas enfim ele adora essa coisa) e ele sempre me reprime quando digo que gosto de algo que ele acha musicalmente tosco.
Então estávamos no Botequim do Hugo, quando começou a tocar um vinil com marchinhas de carnaval. Eu super empolgada, comecei a cantar e pular na cadeira sem notar que meu namorado me olhava estranhamente. Então tive que arrebatar: “Ah, não vem que não tem! Meu avô cantava marchinhas de carnaval pra eu dormir, é minha memória de infância!” - e continuei a cantar e pular.
Foi um susto pra mesa, que começou a rir muito com minha revelação bizarra.

Mas é verdade, quando eu era pequena, era muito mimada e depois de todo mundo se encher o saco de cantar pra eu dormir (eu não dormia se alguém não contasse uma história ou cantasse pra eu dormir) eu chamava meu avô, que as vezes estava presente e vinha com toda a paciência do mundo me segurar no colo e pular marchinhas de carnaval.
Ele pulava e cantava:

“Oh jardineira porquê estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? Foi a Camélia que caiu do galho que deu dois suspiros e depois morreu!”

“Atravessamos o deserto do Saara...”

“Se você fosse sincera, ôôôh, Aurora, veja só que bom que era.... ôôôh, Aurora...
Um lindo apartamento e com porteiro e elevador, e ar condicionado para os dias de calor...”

E às vezes eu não dormia mesmo assim e ele acabava com o repertório sendo obrigado a cantar aquelas mais quentes e nada indicadas pra crianças:

“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...?”

“Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca...”

E outras tantas que eu não me lembro mais, e ele cantava também umas músicas populares portuguesas um pouco obscenas pra cabeça da minha avó (aquela que ia à Londres de vez em quando).
E então era nesta hora que minha avó ficava furiosa, entrava no quarto e era aquela discussão entre os dois - em português de Portugal, claro!

“Óh Manuel, tu estavas a cantar obscenidades à garota??? Onde tens a cabeça??? És safado até com tua neta!!!”
“Óh Mónica, não me enchas ãh, a garota estava quase a dormir! Tu vens e empatas tudo!”

E eu chorava e o pau comia...

Coitado do meu avô!