sábado, outubro 28, 2006

Toilet

Hospedada na casa dos amigos até fechar o contrato do nosso apartamento aqui do lado (se os deuses ajudarem, a chave sai na segunda feira) nos divertimos vendo as gravações de Tokio e Kyoto.

Carol gravou um banheiro daqueles que têm uma privada cheia de funções, que fazem o lixo abrir com um passada de mão pelo ar e me explicou pra que serve cada botão. São vários tipos de privada, mas todas tem esse tal barulho de água.

O que me lembra uma saia justa que um amigo passou há uns dois anos.

Muito apaixonado por uma mulher mais velha que morava com os pais numa casa de dois quartos no interior de São Paulo, aceitou o convite da família para passar um Natal.

Depois de se entupir de gororobas típicas desta data, ele teve gases. Tímido por usar o único banheiro da casa que ficava ao lado da sala onde todos assistiam à tv, ele abria a torneira para fazer barulho e as pessoas de fora não ouvirem o que ele fazia lá dentro.

Logo a mãe da garota percebeu as várias “lavadas de mão“ e diagnosticou: É TOC!

E foi assim que depois de meses de brigas (a namorada queria que ele consultasse um psiquiatra) ele se viu obrigado a dizer o porque das “lavadas de mão“. Mas já era tarde, o relacionamento não durou depois do Carnaval.

terça-feira, outubro 24, 2006

Diselxia

Hoje comprei um pijama cor de rosa com cachorrinhos desenhados.
Me sinto bem com ele e agora posso ficar na cama lendo com essa sensação de que ler na cama é exatamente o que devo fazer da minha vida nesta semana.

Engraçado, por um bom tempo da minha vida eu não consegui ler. Achava que tinha alguma espécie de dislexia ou uma sigla qualquer que inventaram pra definir hiperativos desatentos...

Associei o fato de não conseguir me concentrar à casa do meu pai, mas me lembro bem de quando me mudei pra nove de julho, levei uma porção de livros achando que no meu novo apartamento teria o sossego necessário pra ler todos eles...
Na verdade acabei por ficar mais frustrada e desisti de ler qualquer livro, mesmo que bem recomendado. Assumi que não conseguia e parei minhas tentativas frustradas.

Com essa história de “pé quebrado“ peguei um livro e o devorei, peguei outro e assim foi... Terminei o quinto livro em menos de duas semanas. Record!!!

Às vezes me pego pensando o que deu em mim que pareço outra pessoa.

Acho que me tornei adulta, me perdoei pelas besteiras que fiz comigo mesma no passado e estou mais leve, tão leve que posso vestir um pijama de cachorrinho e ele me cai bem.

***

Rafa, eu não liguei mas pensei muito em você sexta feira. Um beijo.
“O lugar que eu mais gosto neste mundo é a cozinha. Não importa sua localização ou como é construída, desde que seja uma cozinha, um lugar onde se faz comida, me sinto bem. Se possível prefiro cozinhas funcionais e práticas. Com muitos panos de prato secos e limpos e azulejos cintilantes.

Adoro até as cozinhas incrivelmente sujas, com restos de verdura pelo chão - tão sujas que os chinelos ficam logo pretos - e grandes, de um tamanho exagerado. Com uma geladeira enorme cheia de mantimentos que dariam tranquilamente pra um inverno inteiro, uma geladeira imponente, com uma porta em que pudesse me apoiar. E quando levanto os olhos do forninho salpicado de gordura ou das facas meio enferrujadas, lá fora as estrelas brilham tristes.

Ficamos sós, eu e a cozinha. É um pouco melhor do que pensar que fiquei totalmente só.

Nos momentos em que estou exausta, fico divagando. Acho que quando a hora da minha morte chegar, gostaria que fosse na cozinha. Se ela estiver fria e eu só, se ela estiver quente e eu junto a alguém, eu olharia a morte no olho sem medo. Se fosse na cozinha eu diria: 'Que bom.' “


“... Era melhor por mãos à obra. Parecia que a cozinha não era usada há algum tempo. Estava meio suja e empoeirada. Comecei pela limpeza. Esfreguei bem a pia com detergente em pó, limpei o forninho, lavei os pratos, amolei as facas. Lavei todos os panos de prato com alvejante e depois botei tudo na secadora. Enquanto giravam sem cessar, percebi que estava um pouco mais calma. Porque gosto tanto de tudo que tem a ver com cozinha? É estranho. Pra mim a cozinha talvez represente um desejo distante, gravado na memória da alma. De pé no meio da cozinha, tudo parecia recomeçar, e alguma coisa estava de volta.“


“...Eu cozinhava, cozinhava, cozinhava com a energia de um alucinado. Usava na cozinha todo o dinheiro que ganhava com o trabalho de meio expediente. Se errava, tentava de novo até que o prato saísse perfeito. Cozinhando, às vezes eu perdia a paciência, ficava nervosa, mas também me sentia invadida por uma sensação de beatitude.“


“... Levei algum tempo para conseguir cozinhar como se deve omeletes recheadas, pratos de verduras cozidas com aspecto impecável, tempurá. Mas nunca imaginei que um defeito do meu temperamento - não me prendo a detalhes - seria um obstáculo à execução de pratos perfeitos. Fiquei surpresa quando constatei isso: coisas que pareciam sem importância, como não esperar que a temperatura do forno chegasse ao ponto certo, cozer um picadinho sem deixar que evaporasse completamente, e assim por diante, influiam no resultado final. A cor e a aparência dos meus pratos cairiam bem num jantar preparado por uma dona de casa mas não correspondiam às das fotografias coloridas dos livros.

Entendida a lição, me esforcei por fazer tudo da maneira mais correta possível. Enxugava cuidadosamente as vasilhas, recolocava as tampas nos vidros de temperos, examinava com calma e antecedência todos os passos, e quando parecia que estava ficando louca de raiva, parava e respirava fundo. Nos primeiros tempos, a impaciencia fazia com que me sentisse mal, e quando finalmente consegui corrigir todos esses defeitos, pareceu-me que tinha corrigido até meu temperamento. Mas era pura ilusão.“


Kitchen de Banana Yoshimoto.

Se eu me identifiquei?? Não... quase nada...

segunda-feira, outubro 16, 2006

Ciclo 2 - cama, mesa e banho

Enquanto espero a roupa terminar de lavar, penso sobre a vida.

Se eu tivesse que lavar roupa na mão como minha avó fazia, ou pior ainda, se tivesse que ir pra beira do riacho lavar roupas, não pensaria tanto. Ou pelo menos, não daria tempo de parar e escrever.

“A pensar morreu um burro“ é o que minha avó sempre me diz quando olho contemplativa ou quando não ouço o que ela diz por estar envolta em meus pensamentos...

Acho que meus pensamentos sempre incomodaram a família.

Minha madrinha diz que eu sou tão inteligente que passei do ponto, “não faz bem ser assim“, diz ela.

Eu só sei que estava aqui pensando sobre suicidio. Não que esteja pensando em dar cabo da minha vida, mas percebi que não fosse minha infância católica, talvez o suicídio fosse uma opção real.

Hoje, de pé machucado, me vejo devorando alguns livros que Rodrigo tem, os escolho a partir de “autores não cristãos“ - depois de perceber que a dúvida da existência de um deus que me pune fez com que eu chegasse aqui, tenho raiva.

Tenho ódio desse deus que tem tanto poder sobre o mundo e que não faz nada por ele.

...

A máquina parou.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Pés quebrados

Morrendo de medo de alguém passar mal ou achar muito ruim algo que eles fazem lá sem minha supervisão, perco o sono.
Aqui de pé quebrado, insone, pesquisando sobre comida indiana e recebendo elogios pelo pudim mais feio do mundo - mas muito gostoso - tento fazer listas e planilhas pra segunda feira, quando volto pra cozinha sem gesso no pé.
Meu pai diz que vem amanhã, a casa está suja e bagunçada e eu aqui pulando num pé só. É impressionante como eu me preocupo mesmo com o que ele vai pensar, já que dizer, agora, ele não teria coragem.

Se eu fosse o Pelé não quebrava o pé...

terça-feira, outubro 03, 2006

Às vezes me dá um desespero, eu penso em todas as coisas que preciso aprender e fazer e me vejo atada.
Toda cozinha te traz conhecimento, mas parece que o que eu tinha que aprender e ver e fazer lá já foi feito e dito e aprendido. Agora eu tenho que suportar pelo salário que eu tenho que ter pra pagar as contas no final do mês.
Preciso dar um jeito de pagar as contas no final do mês em algum lugar onde eu aprenda.