domingo, abril 29, 2007

Eu estou lendo “Ai de ti Copacabana!“ do Rubem Braga.

O livro é do Rodrigo, que pegou da mãe que provavelmente pegou da Ana Maria Fiocca ou de alguém que pegou dela. Ele tem uma dedicatória a tal Ana Maria em Dezembro de 1960, “com admiração e simpatia“ do próprio autor.

É incrível ter esse livro na mão. Sei lá, eu sempre cheiro os livros que pego. É uma coisa instintiva. Olho, folheio e cheiro as páginas correndo o dedo por elas...

Esse livro tem cheiro de tesouro esquecido no fundo de qualquer caixa da mudança.
Ele é lindo.

Apocalipse

Essa noite eu sonhei que o mundo acabava.
Tudo tinha ficado sem cor, um cinza eterno.

Notícias diziam que a amazônia tinha virado um cerrado gigantesco e os rios tinham secado de vez porque tropas chinesas e americanas ao longo dos últimos anos invadiram pra roubar toda a água, minérios, animais e plantas.

A rua era suja, de uma sujeira horrorosa porque não tinha mais água pra lavar nada, tudo era sujo e fedia e eu sentia uma sede horrorosa. Tossia e punha um lenço na boca pra não entrar aquela poeira cinza.

Pessoas nas ruas procuravam alimento, famintas.

O céu era preto, nuvens pretas muito baixas pareciam querer me pegar.

Acordei e tinha um copo de água cheio do meu lado, minha boca chegava a doer de tanta secura.

Fiquei muito preocupada, preciso diminuir meu lixo e mandar todo o que produzir direto pra uma estação de reciclagem.
Ficar esperando que alguém o pegue na minha porta porque ele está separado é comodismo demais.

Tentei implementar a reciclagem de lixo no meu prédio, mas é impossível, a estação de reciclagem que fica perto daqui não vem buscar o lixo porque estão sobrecarregados. Outras que ficam mais distantes falam que não podem também, que eu tenho que procurar essa que fica mais próxima daqui.

Agora eu queria saber, porque tiraram todas as placas da cidade por causa da poluição visual e não investiram em estações de reciclagem de lixo?? Sem elas tem cada vez mais um número alarmante de poluição de verdade sobre o planeta.
Dessa que não se resolve tirando plaquinhas!

quarta-feira, abril 25, 2007

E então mais de um ano depois, eu sinto falta dela.
Me pego no ônibus numa nostalgia idiota querendo poder marcar de me encontrar em um café qualquer da Vila Madalena, que ela tanto gostava.
Pego meu caderninho rosa e escrevo palavras bobas que talvez, nunca sejam ditas.
Hoje é o dia da ONU.

Amanhã, dia mundial das nações, dia do goleiro e dia do engraxate.

Dia 27 é dia da empregada doméstica - infelizmente eu não tenho uma trabalhando aqui em casa.
E dia 27 ainda é dia do sacerdote.

Dia 28 é o dia da educação e o dia da sogra - será que foi de propósito, tendo em vista a má reputação das sogras em geral?

Dia 29 entramos na 17ª semana do ano de 2007
e comemora-se o dia da juventude operária católica - ou seja, operários não jovens ou jovens budistas operários não entram na comemoração.

Dia 30, é o dia nacional da mulher, mas por sorte não é difundida, já me basta a comemoração do dia internacional.
Ainda dia 30, dia do ferroviário - nunca conheci um.

Dia 1º é o dia internacinal do trabalho, dia em que o Lula vai lá num palco dividido pelos pops sertanejos e fala mais besteiras e faz promessas toscas aos trabalhadores.

Não me enquadro mais na categoria de trabalhadora, já que começaria nesse feriado num novo restaurante, mas antes mesmo do meu primeiro dia de trabalho, fui demitida.

O movimento do almoço parece não ter aumentado e entre o meu teste e a contratação a dona arrependeu-se. Ou seja, faço parte novamente da porcentagem gritante de desempregados no país.
Sou mais um número, e um número ruim.

Fico pensando quem definiu todas essas comemorações nessas datas, e pior, quem as reuniu em uma agenda do Itaú?

terça-feira, abril 24, 2007

Eu, o cão e os carneiros

Hoje é segunda feira?
Ja nem sei mais, passei tantos dias na cama que perdi a noção do tempo.

Nada bom, ainda tomando uma caralhada de remédios, mas pelo menos consegui ler dois livros que queria há tempos.

O primeiro foi “Até o dia em que o cão morreu“ do Daniel Galera.
Que como o previsto, amei.
Foi rápido e me deixou com um gosto indescritível e uma vontadinha de chorar, confesso.

Aquela coisa de “fazer tudo certo até aqui na vida“, me lembrou de quando eu desisti de tudo, até mesmo de tirar minha carta de motorista. De alguma forma fiz como o personagem, quando eu tinha 19 anos eu “saí do jogo“. Posso dizer que só agora eu re-comecei de verdade.

Às vezes eu tenho uma forte sensação de ter perdido parte da minha vida, mas basta eu conversar dois minutos com algumas pessoas que “fizeram tudo certo“ que eu entendo que perdi muitas coisas mas ganhei outras.

A pessoa que me chama de melhor amiga e “fez tudo certo“ do outro lado da linha é alguém que não faz idéia de quem eu sou agora e nem se parece minimamente comigo. É a inércia. Eu passei a ser a melhor amiga na sétima série e até hoje continuo.

Ontem falei de umas coisas do passado e pareceu que fazia uma eternidade, como se eu tivesse vivido aquilo em outra encarnação.

Não sei bem como é isso, mas existem vários eus que sou eu mesma mas que viveu em diferentes vidas.

Engraçado que o segundo livro que li, “Caçando Carneiros“ do Haruki Murakami, tem uma personagem, a garota das orelhas mais lindas do mundo, que é uma pessoa com orelhas cobertas e outra pessoa com elas descobertas. Mas na verdade ela é a mesma pessoa.

Eu me sinto um pouco assim às vezes, mas não por mostrar ou esconder as orelhas, eu fui mesmo outros eus, o eu que frequentava o terreiro, o eu que namorou o R. e buscava entender até onde vai o infinito, o eu que foi atendente de sex shop, o eu que foi garçonete no Julia... E muitos outros eus que até eu mesma tento esconder de mim.

domingo, abril 15, 2007

Ele foi fotografar a cidade na luz da manhã.

Hoje é um dia importante, quero fazer muitas coisas.

Parabéns pro meu amor, que faz aniversário!

Azul, amarelo e vermelho também

Semiótica é uma coisa doida.
Quando estava na faculdade de artes plásticas rolou uma discussão da equivalencia das cores com os sentimentos pra cada um.
Eu queria tanto ter cores, mas eu só tinha gostos na boca.
Confessei à professora, ela disse que eu deveria transformar esses gostos em cores.
Nunca consegui.
Me sentia muito mal por isso.

Desisti e fui pra faculdade de desenho industrial.
Pra pagar a mensalidade exorbitante sozinha eu fazia chocolate em casa e vendia na faculdade e em vendinhas perto de casa. Tinha meses melhores que outros mas pra garantir eu sempre descolava algum evento pra trabalhar de garçonete.

Desisti pela segunda vez da maldita faculdade.
“Sem ela você não é nada“ - gritava meu pai, desesperado pra eu voltar praquela mediocridade toda.
E eu, desesperada pra achar algo que me desse um mínimo de prazer, que me fizesse querer voltar lá todos os dias.

Eu fiz um milhão de coisas chatas por alguns anos até achar um emprego de garçonete num lugar legal, que me fazia feliz.

Um ano dessa vida e não dava mais pra fugir, era mesmo a cozinha onde eu queria estar.
Cansei de sentir o cheiro dos pratos prontos na minha mão e queria sentir todos os cheiros de todos os pratos e ser responsável por parte daquilo tudo.

E estar lá dentro é mesmo uma coisa maravilhosa.
Aquele restaurante que me deu um emprego de garçonete me salvou.

Às vezes eu fico achando que seria mais fácil ser como as pessoas que sonambulam por aí, o que importa é o dinheiro e qualquer relacionamento está bom, contanto que tenha alguém pra esquentar o pé nas noites frias...

Enfim, quanto à semiótica, continuo achando uma coisa doida e honestamente, pra mim os sentimentos não têm cor, e nunca terão.

O que me faz ser mais ou menos equilibrada é estar casada com quem eu amo e fazer todos os dias o que eu amo, mesmo que seja pra ganhar o piso e ter que contornar as dívidas no final do mês.

terça-feira, abril 10, 2007










Hoje, veio um homem consertar a janela, ele ligou uma extensão bem grossa que passou na frente da cama da Bisteca e ela latiu três vezes!

Nunca tinha ouvido se quer um latido da Bisteca. Ela só faz barulhinhos fofos, como ronronados e choramingos quando tem medo.

Eu saí do banheiro de calças na mão na mesma hora, assustada, o homem viu minha calcinha.

Não faz mal, Bisteca latiu, eu nem acredito!










Meu cão de guarda!

Pescoços, cabeças e cabaços

Um dia o chef perguntou pra mim e pra minha companheira de trabalho como se coloca uma girafa na geladeira. Ela ficou questionando o porque de se colocar uma girafa na geladeira, eu disse que dobraria o pescoço dela pra caber, mas a resposta que ele queria ouvir era: abre a porta da geladeira, põe a girafa e fecha a porta da geladeira.

Moral da história: as coisas são simples quem as complica somos nós.

Eu brincava, quando alguém tinha deixado tudo absolutamente bagunçado e eu tinha cinco croques monsieur e quatro saladas pra soltar no marcha-e-sai, e uma sequencia de outras coisas, que eu era uma girafa.

Eu gritava: Tche Gab, girafa, girafa!!! - pra conseguir me manter minimamente calma e não querer esfaquear o sujeito que bagunçou toda minha praça e roubou meus panos e minha faca afiada e deixou uma sem fio pra mim bem no meio do movimento.

Mas normalmente antes de lembrar de ser girafa eu gritava estressada pelo meu pano, normalmente amaldiçoava quem o pegou.

Um estresse idiota porque o sujeito nunca diria que foi ele, se ele quisesse devolver meu pano seco ele pediria emprestado e devolveria depois.

Mas nada disso importa mais, o que mais me incomodava eu resolvi hoje.

Hoje eu fui uma girafa exemplar, dessas com um pescoço bem grande!