domingo, maio 21, 2006

O Patinho Feio

Era uma vez, uma patinha grávida que colocou muitos ovinhos. Ela ficou semanas chocando aqueles ovos e um dia eles romperam. Vieram ao mundo uma porção de patinhos lindos de penas claras. Exceto um patinho que era feio, diferente de todos, ele tinha penas pretas.

Os outros patinhos sempre zombavam do irmão de penas pretas porquê ele era diferente, ele era feio.

A mãe pata tentava ensinar os patinhos a andar, nadar e voar, e o patinho feio sempre ia atrás dos irmãozinhos, ele tinha algumas dificuldades em acompanhar o grupo e todos zombavam dele.

A vida inteira foi assim, todos, inclusive a mãe pata estranhavam o patinho feio porque ele era diferente.

Um dia, todos aqueles filhotes cresceram, e começaram a voar cada vez mais alto e mais longe e o patinho feio não conseguia ir com eles.

E ele estava muito triste, olhando no reflexo da água, suas penas escuras, seu bico longo tão diferente dos seus irmãos voadores... E de repente ele viu um grupo de patos como ele nadando no lago, todos juntos e felizes, brincando.

Ele foi lá perguntar praqueles patos pretos onde eles tinham nascido e descobriu que os patos como ele não eram patos, eram cisnes pretos. E que cisnes não voam com os patos e nem são irmãos dos patos.

Então, ele descobriu sua nova família, cheia de cisnes como ele, um grande e lindo cisne preto.

Fim

Quando eu entrei na escola, as crianças da minha sala zombavam de mim, eu nunca consegui me entrosar no grupo, nunca. Até o terceiro colegial eu era “a Estranha” - era assim que me chamavam. Os apelidos variavam de escola em escola (que eu pulei diversas vezes), mas esse é um bom exemplo de como eram meus apelidos de classe.

Minha mãe me contou essa história uma vez e ela ressoou na minha cabeça por anos...

Depois de sair da escola eu esqueci completamente dela e só fui me lembrar esses dias, quando voltei pra casa do meu pai.

Então depois de uma conversa com meu namorado ontem eu percebi que eu ainda sou, e sempre fui, o patinho feio não só na escola ou na vida, mas sim dentro da minha família.

Eles são patos que voam e eu sou um cisne negro que nada nas águas do lago.

quarta-feira, maio 17, 2006

E o PCC virou herói

Hoje, nicknames de crianças no MSN diziam:

“GAaa...Ahh Q drogA... cabo td! amanha tem aula... bosta!!! PCC > partido contra colegio!!! Vamo lá PCC!!!!”

E eu que pensei que as mães poderiam usar o PCC como ameaça: “Pedrinho, vai já pro banho ou eu vou chamar o PCC!”

Pelo visto os “Comandos em Ação” viraram old fashion...

Agora a nova onda é:

“PCC em Ação - já nas prateleiras! Ameace sua mãe e ganhe o seu!”

segunda-feira, maio 15, 2006

Pamonhas Comandam a Capital

Ah, olha só o amigo do meu primo disse que ouviu dizer que os bandidos interditaram a Av Paulista e desviaram todo o trânsito para a Augusta, para causar uma superlotação das casas de massagem. Ele também disse que os bandidos proibiram a venda de qualquer bebida alcoólica que não seja Catuaba pra incentivar o comércio dentro das casas de moças.

A vizinha da minha tia, que tem um sobrinho que é policial militar de Diadema, disse que amanhã os bandidos vão fazer uma passeata de depredação da paulista até a sede do governo e estão convocando todos os bandidos, eles tomaram uma rádio aqui em São Paulo pra anunciar e convidar a todos. Os motoboys também foram convidados e os donos de empresa de lotação já confirmaram presença. Vai ter até show do Zezé de Camargo e Luciano.

Também darão workshops e todos terão oportunidades de queimar ônibus e roubar bolsas de velhinhas indefesas.

Haverá também aquele brinquedo de atirar tortas, só que ao invés de tortas atirarão com 12 e os alvos são PMs.

E eu vou lá fazer um extra, vender catuaba e pipoca doce pra bandidagem! Tô pensando em Churrasco Grego com suco de amarelo - aquele que você não sabe se é de laranja, abacaxi ou manga, você só sabe que ele tem gosto de amarelo.

É nóis na fita e os praibói no dvd!

sexta-feira, maio 12, 2006

Há sempre um Kit Frit em uma dimensão paralela mais próxima de você

Quando eu tinha nove anos, perto do meu aniversário lá pelos meados de junho, eu pedi um Kit Frit pra minha mãe. Ela disse que não me daria porque era um brinquedo caro e mandou eu escolher outra coisa de presente de aniversário. Eu disse a ela que faria qualquer coisa pelo brinquedo - “qualquer coisa mãe, por favor, vai?” - então ela decidiu que se eu parasse de roer unhas, no dia das crianças, três meses depois, ela me daria um Kit Frit.
Eu me empenhei na coisa, mordia os cabelos, mastigava papel e ponta de caneta bic na escola pra não roer as unhas que minha mãe cortava com orgulho todo final de semana.

Roer unhas sempre foi tão benéfico pra mim que até hoje pratico com regularidade. Hoje mesmo na volta pra casa, roí todas as unhas, elas já estavam com um branquinho despontando pra fora da carne. Na verdade eu me sinto um pouco mal por roer unhas no ônibus bem depois de segurar no balaústre e pagar dois reais ao cobrador, mas chega a ser algo inevitável, sabe? Prefiro roer unhas a ter uma síncope de ansiedade dentro do ônibus. Melhor comer umas bactérias e tudo bem. Vão-se as unhas, fica a sanidade.

E naquela época eu consegui ficar três meses sem roer unhas usando como artifício outros objetos e minhas próprias cutículas para conquistar meu sonho de consumo, o Kit Frit.
Ganhei um Kit Frit cor de rosa e uma família orgulhosa. Uma tia me deu um estojo de alicates e apetrechos de manicure pra eu cuidar das minhas belas unhas-não-roídas sozinha, "como uma mocinha deve fazer", dizia ela.

Obviamente a maluca da minha mãe não me deixou nem chegar perto do estojo de manicure já que ele era nocivo à minha educação, assim como as Barbies que eu e minha irmã ganhávamos e ela escondia alegando que a tal boneca americana tinha formas femininas e isso faria com que no futuro eu e minha irmã nos tornássemos mulherzinhas frescas e frágeis.

Por esse mesmo motivo ela também me enfiou na aula de judô enquanto eu implorava pra ir às aulas de balé. E todas as meninas da minha idade saiam do colégio e vestiam suas saias de bailarina e sapatilhas enquanto eu colocava um kimono ridículo pra ir apanhar dos meninos na aula de judô. Tinha um menino que sempre puxava meu cabelo na aula e eu resolvi alegar que por isso não voltaria mais lá, meu cabelo era muito comprido e eu ficava em desvantagem quando o professor não estava olhando. Então minha mãe resolveu cortar meu cabelo joãozinho pra evitar mais puxões e eu poder aprender a me defender no tatame e na vida.

Não funcionou.

Enfim, minha vitória foi que eu consegui passar na prova das unhas roídas, ou melhor, das unhas não roídas e ganhei um Kit Frit no dia 12 de setembro, às 10 da manhã de um dia ensolarado.

Todo mundo adorava o Kit Frit, até minhas vizinhas ignoravam minha chatice e vinham brincar. Tinha um botijão de gás cor de rosa que bombeava ar através de uma mangueirinha verde a qual fazia bolinhas no óleo de mentirinha que na verdade era água da frigideira de plástico. Vinha junto umas comidinhas de plástico duro pra se fritar.

Era uma alegria só... Exceto quando minhas “amiguinhas” queriam enfiar alface e tomate pra cozinhar, isso me deixava extremamente contrariada. Oras, qualquer criança, panaca ou não, deveria saber que alface e tomate não se fritam, essas coisas são temperadas e vão na salada! Então eu vetei o Kit Frit, elas nunca mais vieram brincar e eu fiquei feliz brincando sozinha com minha conquista...

Até o dia em que eu não agüentei e voltei a roer unhas. Na verdade não foi bem uma decisão, eu fui cedendo à tentação (um dia um cantinho do indicador, outro dia um cantinho do mindinho - ah, as unhas dos mindinhos são sempre mais gostosas de roer, nunca entendi o porque), no final de semana quando minha mãe me chamou pra cortar as unhas eu já não precisava do alicate dela.

E foi assim que o Kit Frit (meu presente de aniversário e também presente de dia das crianças) foi se juntar com as Barbies e o estojo de manicure. Uma dimensão paralela que eu procuro até hoje em algum armário aqui de casa.

sexta-feira, maio 05, 2006

inexigibilidade

inegi, não, inexi... inexigi... bilidade

inexigibilidade, isso!

inexigibilidade!



O mais legal de escrever a mão é ficar tentando acertar os pingos nos cinco ís da palavra.

quinta-feira, maio 04, 2006

A Vila às vezes me cai bem

‘Arquitetura tosca pra ostentar o mau gosto’
É o que meu namorado sempre diz quando passa por um desses prédios toscos cheios de cantos bizarros e árvores redondas no jardim.
E a Vila Madalena agora está cheia deles, em vez das casinhas fofas, cada vez mais edifícios horrendos, construídos pra pessoas que se limitam à vida enfurnados de 8 a 10 horas em escritórios repletos de gente que só sabe falar de negócios, de marcas e operadoras de celular, do time campeão da taça putaquepariumeucu, da nova atriz da novela global que saiu na revista tal falando que nunca deu, ou das baladas da Vila Olímpia e (minha nossa!) da Vila Madalena.

É triste, mas o mundo ganha cada vez mais pessoas assim e a Vila Madalena é um reflexo disso. Ateliês por toda parte pra sustentar aquele ar de hippie que inunda o bairro. Restaurantes naturais com comida sem gosto, cafés com sanduíches e salgados de farinha de soja e afins. Bares cariocas pipocando... Enfim, o mau gosto dominou o bairro que na minha adolescência era tão bonito e divertido.

Mas a Vila Madalena ainda me encanta de vez em quando... Ainda, juro!
Esses dias tive que atravessá-la a pé. Do metrô até o começo da Fidalga.

Na Deli Paris tomei um capuccino, e como sempre, eles me serviram um daqueles que acalentam a alma e então pude prosseguir minha viagem.
Ignorei a visão tosca dos ateliês e senti um perfume incrível saindo de um restaurante na Girassol. Fiquei ali parada sentindo aquele cheiro e de repente eu senti uma vontade, uma imensa vontade de trabalhar em um desses raros restaurantes fofos que ainda persistem na Vila.

Depois de passar por aqueles bares todos e imaginar o quanto sou feliz de ter que atravessar a Vila de dia e não durante a noite com todos aqueles lugares abertos, cheguei a meu destino. Uma obrigação, trabalho. Trabalho não se nega.

Na volta, mães de mãos dadas com seus filhos voltando da escola, caminhando.
Predinhos de três andares sobreviventes aos edifícios de vinte e algumas casinhas dos anos 40 ainda existem no bairro. Nenhuma pra alugar.
A loja de conserto de roupas da senhorinha que sorria na porta.
De dentro de um carro uma mulher, histérica, buzinava por causa do trânsito parado na Harmonia.

E eu não pude agüentar, e tive que escrever tudo isso no meu caderninho!
Me sentei num murinho azul com paredes fofas de pastilhas que faziam desenhos e escrevi.

E eu andei mais, só por caminhar na Vila as cinco da tarde, olhando as pessoas, as casas, os prédios e os bares de mau gosto abrindo...
Tudo bonito naquela tarde fria de sol